"A DOENÇA INVISÍVEL DA MODERNIDADE" Crônica de: Flávio Cavalcante
A DOENÇA INVISÍVEL DA MODERNIDADE
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Vivemos na era da conectividade plena. Com apenas um toque na tela, temos o mundo inteiro à disposição. Redes sociais, mensagens instantâneas e vídeos infinitos nos preenchem, ou melhor, nos distraem a cada momento. A promessa inicial era de que essa revolução tecnológica traria facilidade, praticidade e felicidade. No entanto, à medida que nos aprofundamos nessa maré digital, começamos a perceber uma face sombria: O VAZIO QUE ELA PODE DEIXAR.
As doenças da modernidade, como depressão, ansiedade e a síndrome do pânico, se tornaram companheiras frequentes de muitos de nós. Elas não têm uma causa específica, não aparecem em um exame de sangue, mas estão ali, corroendo por dentro. A sensação de estar sempre conectado nos engana; estamos, na verdade, cada vez mais isolados. A comunicação instantânea oferecida por aplicativos como WhatsApp e as redes sociais como o Instagram ou o Twitter, ironicamente, nos afasta do contato real e profundo com os outros e, pior ainda, de nós mesmos.
O celular, antes uma ferramenta, agora se tornou uma extensão de nós. É um reflexo do nosso medo de estarmos sozinhos com nossos próprios pensamentos. No entanto, é essa dependência, essa fuga constante do presente, que muitas vezes nos leva à ociosidade emocional. Preenchidos por notificações incessantes, perdemos a capacidade de nos conectarmos genuinamente com o que realmente importa.
A depressão, frequentemente chamada de "o mal do século", surge sorrateira, muitas vezes camuflada por uma vida aparentemente normal nas redes. Sorrisos para selfies e legendas inspiradoras escondem a tristeza profunda, um vazio que o feed interminável não preenche. A ansiedade, por sua vez, alimenta-se dessa constante necessidade de estar atualizado, de não perder nada. Mas ao tentar absorver tudo, acabamos perdendo a nós mesmos.
Na busca por pertencimento e aceitação, nos perdemos em filtros e likes. As crises de ansiedade aumentam, o sono se torna escasso, e a mente não consegue mais descansar. Tudo isso em nome de uma modernidade que, ao mesmo tempo que nos aproxima de todos, nos afasta de nós mesmos.
É preciso coragem para desconectar. Para voltar ao básico. Um passeio no parque, uma conversa sem pressa, um tempo para refletir, sem a distração de uma tela brilhante. A modernidade nos trouxe muitas bênçãos, mas também muitas armadilhas. A doença invisível da alma cresce silenciosamente, e só a conexão verdadeira, consigo e com o outro, pode nos resgatar.
Assim, enquanto a tecnologia avança e as redes se tornam cada vez mais parte integrante de nossas vidas, precisamos nos lembrar de cuidar daquilo que é realmente essencial: a nossa saúde mental. Afinal, de que vale ter o mundo inteiro na palma da mão, se perdermos o que há de mais valioso dentro de nós?
Flávio Cavalcante