A bailarina
Mayra era um menina bailarina. Ela era minha amiga. Eu era amiga dela. Seu quarto cor de rosa, decorado, cheio de mimos me encantava. Suas roupas delicadas, seu cabelo e rosto delicados também. Estar com ela era estar num mundo de nuvens e fantasia.
Quando estava com ela, aprendia sobre música, dança, literatura e ao fechar meus olhos no final do dia, sentia-me feliz, verdadeiramente feliz.
Naquele quarto de bailarina, tirava os sapatos e pisava no tapete macio, observava as cortinas coloridas e delicadas como ela, escutava sua voz macia e me deleitava.
Eu, filha do zelador do prédio, de família humilde, não tinha um quarto pra mim, dormia no sofá da sala e quando estava com ela, no quarto dela, sentia que era eu a dona dele.
Ela tinha uma vitrola, e nela tocava os discos coloridos que narravam os contos de fadas, que cantavam as canções dos Saltimbancos, história que me acompanha até hoje e ensino a meus alunos.
Suas roupas depois de poídas, passavam pra mim, pra minhas irmãs. Vestíamos com gosto, com satisfação aquelas peças. E quando os brinquedos velhos chegavam como doação em nossa casa, era uma festa.
Por causa dela, por causa da bailarina sou apaixonada por música, por histórias. Por causa dela, quis ter um quarto pra mim, quis dar um quarto a cada um de meus filhos.
A bailarina hj dança no céu. Sua vida foi curta, mas um pedaço dela permanece em mim, nas histórias que conto, nas canções que escuto. A bailarina continua dançando suavemente em meu coração.