E Se Deus Fosse Um de Nós

Imagine um dia comum, desses em que a rotina nos consome, e as horas parecem escorrer pelas mãos sem que algo realmente significativo aconteça. Agora, imagine que, nesse mesmo dia, ao embarcar em um ônibus lotado, você senta ao lado de alguém que, à primeira vista, não desperta nenhuma atenção especial. Roupas simples, olhar cansado, um suspiro profundo que parece carregar o peso do mundo. Poderia ser qualquer um, não é? Mas e se fosse Deus?

Sim, Deus. Não aquele que habita os altares ou que se revela nas pinturas sacras. Mas um Deus sem ornamentos, sem auréolas, sem o brilho que imaginamos. Um Deus, assim como você, espremido no ônibus, tentando apenas chegar em casa. É uma ideia desconcertante, não? Pensar que a figura suprema, a entidade que muitos de nós só se atrevem a invocar em momentos de desespero, poderia estar ali, ao seu lado, esperando a próxima parada.

Você olharia para Ele? E se olhasse, o que veria? Um rosto comum, talvez. Um olhar perdido na janela, como se procurasse algo que foi esquecido há muito tempo. Talvez, se você o olhasse nos olhos, encontrasse uma tristeza que, de tão profunda, fosse quase familiar. E nesse momento, algo em você começasse a questionar.

O que perguntaria a Ele? O que diria se soubesse quem Ele realmente é?

Talvez a pergunta mais desconcertante seja: você acreditaria? Acreditaria que, naquele momento, Deus estava ali, ao seu lado, sem glória, sem milagres, sem o resplendor que sempre lhe atribuíram? Apenas mais um na multidão, tentando encontrar um lugar para descansar.

E então, se aceitasse essa ideia, como isso mudaria a forma como você vê o mundo? Se Deus pudesse ser um de nós, então, o que nos impede de ver o divino em cada rosto, em cada gesto, em cada vida ao nosso redor? Talvez o segredo esteja aí, em perceber que o sagrado não se revela em momentos extraordinários, mas no ordinário, no dia a dia, nas coisas pequenas.

E se no fim do dia, Deus não estivesse mais lá, e você tivesse perdido a chance de reconhecê-Lo? Talvez, assim como você, Ele só estivesse tentando chegar em casa. Afinal, o que é o divino senão a própria experiência humana, carregada de dúvidas, medos, mas também de incessante busca por algo maior?

Na próxima vez que você pegar o ônibus, ou mesmo cruzar com um estranho na rua, olhe um pouco mais de perto. Talvez, quem sabe, Deus esteja apenas tentando voltar para casa, exatamente como você .