O Batismo do Canelinha
Era uma tarde azul daquelas em São Paulo. Nem muito seco e nem muito frio. As flores das árvores alegres prenunciavam a chegada de um novo tempo. Diferente da turbulência vivida com a morte do Zuzu.
Havia uma ansiedade branda harmonizando com os olhos do momento, quando chegamos a casa da moça, que oferecia um gatinho pra adoção na Internet.
Ela o retirou das ruas, deu- lhe o nome de Bigô, por causa de um sinal no narizinho parecendo um bigode.
No caminho a casa da moça minha filha dizia:
- Pai será que vamos gostar dele?
E eu contradizia:
- Será que ele vai gostar da gente?
Sofriamos da perda do nosso bichano, que há tempos estava conosco e por um erro médico, como eu classifico, veio a óbito.
Nessa salada urbana, até os animais são vítimas capitais da negligência médica.
E quando estavamos combalidos afogando as lagrimas da perda. Minha filha resolveu e disse:
- Pai não estou conseguindo dormir. A saudade é imensa e o vazio é demais.
Então ela começou a procurar nas redes sociais até encontrar abrigo na imagem calma daquele animalzinho. Esmiradinho, meio acizentado, todo rajadinho...todo tímido.
Veio purucando, purucando como se soubesse, que seriamos os proximos tutores.
Quando o colocamos na caixa de transporte ele ficou todo assustado.
Vindo pela rua todo calado.
Do ônibus ao metrô ele já esboçou uma reclamação como gemido.
Quando chegamos em casa ele ficou pelos cantos. Se escondendo nos prantos quietos , como a saudosiar a antiga morada.
Nao demorou muito e ele começou a virar bicho solto.Corria a casa toda e não obedecia, porque lá ficava reservado a sua caixa.
Dado momento a janela da cozinha no setimo andar estava aberta e ele pulou da pia a janela.
Foi um momento de tensão, pra nós, porque, pela rapidez do feito não conseguiriamos salvar da queda e pra ele principalmente, que teve, em suas garras a força necessaria pra não cair.
Passado o susto, minha filha inventou de
rebatizá- lo fazendo toda uma cerimônia, onde este foi nomeado como Sir Canelinha, com direito a consagração com espada de papelão e tudo.
Após os ritos de iniciação resolverem então, banha-lo para o acalmar. Ação está, da qual fui voto vencido.
Naquela mesma noite ele foi ao banho.
Acontece, que nos preparativos, ele soltou um grito de desespero, como a pressagiar e desde já repudiar o modismo:
- Miauuuuuuuuuu. Miauuuuuuuuu
E se agoniando todo nos braços de minha filha, com os olhos esbugalhados, olhou pra mim firme, que estava a parte da celebração, como a pedir-me socorro e logo depois, em resposta à imposição, o coitado se urinou todo.
De pronto intercedi e a celebração ficou mesmo até o batismo do seu nome.Pois assim que Maíra o colocou no chão...
Ele saiu em disparada pra algum lugar, qual viemos encontrar , depois de dois dias.