Cartas de amor
Escrever é registrar em palavras os sonhos.
Eu comecei a escrever tardiamente, com 52 anos. Foi quando encarei o computador pela primeira vez. Apanhei... Ainda apanho! Lutamos todos os dias, páreo duro de se ver. Às vezes penso que ele vai me vencer, que não vou conseguir domá-lo. Quando fica muito raivoso recorro aos "serviços" da minha filha. Ela diz: é fácil. Às vezes até acredito.
Gosto de escrever cartas. Elas me fazem lembrar da minha juventude, do carteiro que não chegava e da falta de assunto que me perseguia. Adoro selos, ficava encantado com eles. Sonho com uma carta com um "Olho de Boi". É o mais famoso selo brasileiro, foi o primeiro do Brasil e o segundo do mundo. Imagine receber uma carta com um selo dessa grandiosidade? Só eu na minha distante inocência!
Álvaro de Campos disse que "Todas as cartas de amor são ridículas". Depois corrigiu "Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas". Como não sou um Fernando Pessoa acredito piamente que todas as cartas são de Amor. Infelizmente, hoje, o gênero cartas é pouco explorado no campo da literatura. As cartas de amor possuem em sua forma uma composição amorosa e subjetiva. O conteúdo primordial encontrado nelas são os sentimento amorosos de pessoas.
Essas cartas mostram o amor que queremos transmitir através das palavras. Os acontecimentos que afetam os apaixonados devem ser iguais para os amantes. O amor exige empenho e renúncia da parte de quem ama. As cartas revelam, na maiorias das vezes, uma fase da sedução concebida tanto como busca de si como a conquista do outro.
Uma carta de amor profundo é a que Mário de Andrade escreveu para o amigo Manuel Bandeira confessando sua homossexualidade. “Si agora toca nesse assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua e si saio com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só minhas.”. Essa é de cortar os punhos.
Para quem gosta de cartas mais suaves recomendo que leiam as de Clarice Lispector. Além das correspondências familiares, dedicou-se à troca de cartas com amigos, artistas, intelectuais e escritores da época, dentre os quais se destacava Fernando Sabino, com quem a autora teve um "Encontro Marcado" por toda a vida.
É importante observar que não existe um estilo pré-definido para se escrever cartas uma vez que elas dependem da natureza de cada pessoa.
Hoje 24 de agosto de 2024, está fazendo 70 anos que Getúlio Vargas escrever sua Carta-testamento onde diz: "Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.". Para quem gosta de política recomendo a leitura na íntegra. Parece que nada mudou nesses anos todos.
Escrever cartas e sonhar é só começar.
E vamos que vamos...