Big... o vendedor de bom bons, da escola Benjamin Constant

Naquela época,  da  Belém, sem água encanada, sem asfalto, sem energia elétrica adequada, de retretes e privadas, das lavadeiras, das operárias das fábricas de tabaco como a tabaqueira, da Democrata, da Souza Cruz, das fábricas de cordas Aliança, da sorveteira Santa Marta, da Grapette, das panificadoras e padarias, da torrefadora de café, da Praça Brasil, do Guraná Vigor, do Guara-Suco, da Renda Priori e do buraco cheiroso, que cercavam o Umarizal, via-se também, pela manhã bem cedo a rua cheia de meninos e meninas fardados com seus pai ou mães, ou avós caminharem como num passeio a escola escola Benjamin Constant, seja com chuva ou com sol.

Saíam de casa impecaveismente padronizados, como um exército educacional.Camisa branca social, manga curta, bermuda ou calça azul marinho,  meias,  tênis conga branco ou sapato alpargatas e o orgulho no peito de ser daquela escola.

De casa até o local, seguíam na Bernaldo Couto, passando pela vila Paulina  até atravessar a Doca e seguir  na Manoel Barata, passando pela fábrica de Castanha,  pelo Sesc, pela fabrica de perfumes, Phebo e a igreja com o Círculo Operário,  para enfim entrarem pela porta lateral do colégio,  onde encontrávam aquele senhor guerreiro, moreno calvo, de baixa estatura com aquele bigode esquisito e o rosto queimado do sol. A verdadeira celebridade dos alunos. O sonhos de consumo na entrada, saída e o recreio. O bombonzeiro, que todas as manhãs saia de sua casa para labutar como muitos brasileiros.Tirava de dentro da escola aquele carrinho coberto em plástico azul todo embalado, preso  com ligas de câmara de bicicletae,  e  o posicionava na calçada pelo lado de fora do muro, atrás das grandes do portão.

Enquanto as inspetoras  enfileiravam os alunos por série no pátio,  diante de um altar , onde as bandeiras eram as vedetes, para então começarem a entoar obrigatoriamente  os hinos do Brasil, do Pará e da Bandeira.

Big,  que não se sabe quem começou a chamá-lo assim. Armava e ornava  a sua  barraca, como uma tenda, com  as mais variadas especiárias a fazer inveja hoje  aos chineses do importado.

Muito cuidadoso e organizado, ele deixava tudo pronto.

E do lado de fora mesmo, com aquele jetinho Inquieto, com seu relógio no pulso, aquela calça simples,  aquela camisinha em algodão, ora escura, ora listrada, mas que lhe servia ao dia a dia se rendia aos hinos e depois se assentava naquele barquinho escorado ao muro de fronte a barbearia e aos ônibus, que por ali circulavam.

Logo que acabava a cerimônia da entrada

alguns dos meninos e meninas, filhos de políticos e militares, aqueles que tinham rendas, após a cerimônia de entrada corriam e compravam bombons.

Ficavam a gritar pela grade:

- Ei Big, me dá um chiclete adans.

Outros diziam:

- Big me dá uma jujuba.

- Me dá aquele galak...

- Quanto está custando um prestígio?

Ele atendendo um, depois o outro. Até que a inspetora colocava aqueles meninos pra sala de aula.

Lá ficava toda a manhã. Alem dos alunos, atendia a todos, que por ali transitavam ou moravam.

O àpice se dava , quando a cirene do recreio tocava e a multidão de alunos saia das salas de cima descendo a velha escada de madeira no estilo colonial, enquanto outros saiam gritando aliviados das salas em baixo, num tempo de quinze minutos, que inundava toda aquela área, do pátio,  bem extensa e limpa,  em barro amarelo da escola. Uns iam lá pela outra entrada a ficar apreciando os dois imensos jambeiros, que jogam no chão as lindas  flores rosa no solo enegrecido e úmido, enquanto outros corriam na área aberta do pátio das bandeiras como pássaros livres.

Os menos favorecidos corriam pra sala da merenda e entravam com seus copos ou pratos na imensa fila, que trazia menu variado. De mingau de aveia, de fubá a sucos de maracujá, leite, roscas cinderela e outras especiarias bem simples, mas que matava a fome.

Muitos após a sua merenda, ou quase no final do recreio como numa prossissão seguiam direto ao Big deixando-o confuso.

As meninas pediam assim:

- Ei Big, me dá  um lig,  lig...

- Ei big, me dá um saco de pipoca...

- Big por favor aquele ploc amarelo...

Por sua vez os meninos:

- Big aquele índio com chiclete...

-  Big me dá aquela arminha, que atira flexa...

- Big aquela baladeira ali...

E o Big por trás da grade, sob a desordem do caos,  de tantos pedidos ao mesmo tempo se havia num desespero de atender, receber e passar troco.

As vezes, ele se zangava e reclamava pra por ordem no lugar. As vezes ele conversava e dava conselhos pros meninos não gazetarem aula.As vezes, ele era um x9 e passava informações dos alunos maus comportados as inspetoras.

Todavia Big, foi uma lenda em vários anos como a diretora Odete, como muitas merendeiras, como alguns professores  e como essa velha escola.

Quem não conhecia o Big?...

Em tantos Bigs, que fazer do seu árduo dia um trabalho digno diante das escolas pelo país afora. Eis aí um momento pra se ter saudades, daquela velha Belém de tantas mangueiras, daqueles alunos orgulhosos e dos vendedores ambulantes das escolas dos bairros.