Cuidando dos Pais Idosos: Um Ato de Retribuição, Amor e Alegria
Na minha infância, em um comum domingo com a família, lembro de assistir ao episódio “O Dia do Arremesso” da série “Família Dinossauros”. Nesse episódio, a família se prepara para um momento especial: a cerimônia de despedida da Vovó Zilda. Ao completar 72 anos, ela deve ser arremessada no poço de piche, seguindo a tradição milenar dos dinossauros. Essa situação visa “protegê-la” da exposição aos predadores.
Hoje, já adulto, recordo muito desse episódio. Encontro-me na situação de estar cuidando das enfermidades que afligem meus pais idosos. Eu sempre retorno à casa deles, onde tento fazer a velhice de ambos o mais agradável possível e proporcionar o máximo de bem-estar.
Pensando sobre o ato de cuidar dos mais idosos, percebo que o episódio da Vovó Zilda ilustra metaforicamente como muitos jovens desprezam os mais velhos. No entanto, os mais idosos acumulam experiência e sabedoria ao longo de suas vidas. A Vovó Zilda, com seus 72 anos, tem histórias para contar e lições a compartilhar. Jogá-la no poço seria desperdiçar esse conhecimento valioso.
Devemos reconhecer e valorizar a contribuição dos idosos para nossas vidas. Eles ajudam a formar nosso caráter e nossa cosmovisão de mundo. Cuidar deles requer bastante compreensão. Em vez de sacrificar a Vovó Zilda, a família poderia oferecer apoio, carinho e companhia. O ato de cuidar envolve respeitar a dignidade e a individualidade dos idosos, reconhecendo que eles têm necessidades específicas.
Eu cresci me alimentando no que tinha no prato, o que meus pais podiam pagar com o suor do trabalho. Usei roupas doadas, muitos brinquedos que desejava (objetos que todas as crianças da época também queriam), eu não ganhei em aniversários e outras datas festivas. Lembro, por exemplo, dos bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, os quais muitos amigos tinham, mas eram caros para meu pai comprar. Mas tudo isso me fez valorizar o que tinha e por tudo ser grato.
Anos de convívio e mediante tanto cuidado e carinho vivido, minha felicidade na vida adulta é ter o privilégio de saborear uma refeição feita pelas mãos de minha mãe. Apreciar um pão de queijo feito por ela em uma manhã e pensar que o contentamento se dá no convívio do lar, não vivendo apenas para si, mas percebendo, sentindo que existe um grande motivo para viver na relação com o familiar.
É fundamental compreender que esse outro é o motivo de nossa vida, a referência para nossas atitudes, elos que nos fazem pessoas melhores e é combustível que nos conduz a felicidade. Ao cuidarmos de quem amamos, da nossa família, tudo é mais significativo em nossas vidas. Essas relações são âncoras para suportar difíceis momentos e nos oferece auxílio para o que for necessário. O amor de quem nos é essencial purifica e eleva em vários momentos. Há uma espécie de retribuição e alegria no ato de cuidar dos pais idosos mediante todo o esforço que os mesmos tiveram por nós durante toda a vida.
23.08.2024