Um Adeus

Nunca pensei no mês de agosto como o mês do cachorro louco e tampouco no mês do desgosto. Não acredito nessas superstições. Mas que ele veio ganindo e matando à pau, isso veio.

Nessa semana, dei de cara com uma lua alaranjada e linda boiando no céu e, eu continuei estática admirando-a e achando a coisa mais linda desse mundo. Aliás, tudo que há no alto é belo e misterioso assim como aqui embaixo, a natureza é bela e também tem os seus mistérios. Eu sei que lá em cima reverbera por aqui.

Não fiz nenhum pedido e nenhuma oração, porém fiquei fascinada com aquela bola gorda e gigante iluminando todas as casas e a minha imaginação. E num instante pensei na grandeza desses astros que mexem com as minhas emoções. Sempre estou à flor da pele e me despetalo com facilidade. Até o arrepio que me percorreu por todo o corpo desvendando a minha dor que, no ápice acelerou as batidas do meu coração. Não sei explicar o porquê do belo fazer doer... Mas ele fez.

Talvez naquele momento eu tenha transpassado na lucidez daquele bojo lunar. E tem também esse diacho de tal Mercúrio retrógrado junto com Marte, que vive guerreando, e, como se não bastassem as tragédias pelo mundo e aqui nesse humilde Nepal. Mas confio na minha Vênus que é puro amor. Com um pouco de rebeldia eu sei e ninguém precisa lembrar, porém, amorosa ao extremo.

Sai do corredor e deixei as minhas divagações para trás e vi a dura realidade à minha frente. Me bateu um desespero, uma falta de ar - logo eu que vivo dele.

A minha gatinha Lisa de quinze aninhos ou bem mais ( eu me perco nas datas porque são muitos), se foi na quarta-feira. Com um câncer de mama com metástase no pulmão. Ali estava a minha dor e o meu sofrimento. O meu amor tão machucado e eu me sentindo egoísta por prendê-la à mim. Deveria ter soltado e desatado o cordão de prata. Mas fui egocêntrica e infeliz. Ela sofreu e eu estou sofrendo até esse momento. As minhas noites são horríveis porque sinto-a próxima à mim; mas não a vejo.

Aquela lua exibida me deu todos os sinais e ao mesmo tempo me iludiu com tanta beleza. Não voltei mais ao corredor à noite e nem sei se a lua continua cheia ou vazia. Também não me importo mais com ela. Tudo continua dentro de mim.

O último miado sofrido da minha filha que eu tanto amo. A agulha carrasca ferroando o seu bracinho dolorido e eu sufocada com um choro convulsivo. Talvez um choro de Vênus desalmada.

🐾 Minha filhota foi adotada ainda bebê e foi criada na mamadeira. Me fazia bibitcha porque ela sabia que eu pertencia à ela. Que privilégio ter um gatinho que te escolhe e te faz parte importante de sua vida.

🐾 RIP Lisa Simpson, amor da minha vida.🐾

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 23/08/2024
Reeditado em 23/08/2024
Código do texto: T8135494
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