"Arte não é apenas talento ou capacidade"

Tirado de um debate real

Comentário muito curtido em uma página de humor sobre arte do Instagram, que sigo (Ancient Cringe), usado para defender como exemplo de obra artística um quadro "abstrato" que se consiste em uma linha dobrada, colocado ao lado de uma escultura do Michelangelo.

Mas será mesmo???

Aqui, farei uma tentativa de reconstituição de alguns dos meus argumentos mais relevantes que usei no debate a partir dessa afirmação.

Primeiro: dizer que "arte não é apenas uma questão de talento ou capacidade" é o mesmo que dizer que "a gravidade não é apenas uma questão de atração", se, para ambas, essas particularidades são essencialmente constitutivas. Uma espécie de confusão falaciosa entre insuficiência e natureza, de declarar que o básico de algo não é suficiente para determiná-lo. Mas o básico, enquanto determinante de natureza ou essência, nunca é insuficiente. No caso do talento ou capacidade, até mesmo para um quadro extremamente simplório, como o do exemplo usado na postagem da página do Instagram, ainda exigiria algum talento, mas mais um tipo político ou... maquiavélico, e não aquele que é tradicionalmente requerido para um trabalho artístico de qualidade.

Segundo: um dos meus oponentes no debate argumentou que o artesanato não é arte enquanto defendeu que aquele quadro "abstrato" pode ser considerado como tal, e ainda com base no argumento de que o conceito de arte não pode ser excessivamente abrangente, depois de eu ter argumentado que o conceito de um termo abstrato, como a arte, tende a apresentar fronteiras mais porosas e se irradiar em outras áreas, como a arquitetura/engenharia. Então, eu percebi uma contradição por parte dele, de defender que um quadro extremamente minimalista, como o que foi usado como exemplo na postagem, deva ser considerado arte, enquanto que uma mesa de madeira bem trabalhada (o exemplo que ele usou) não pode ser. Se com base na confusão dele entre insuficiência e essência conceitual, um quadro praticamente vazio não deveria ser considerado arte ou pelo menos determinado como insuficiente...

Terceiro: por fim, eu perguntei a ele se, por acaso, não existe arte boa, ruim e/ou falsa?? Se todas as obras artísticas são exatamente iguais em qualidade?? E ainda comentei que, mesmo uma poesia mal escrita, uma música ordinária ou um quadro feinho, ainda são artísticos, enquanto que a pretensão de algo profundo com base em um minimalismo extremo de estilo e elaboração, como no caso de muitas obras "modernas", mais parece ser uma questão de política do que de arte (não desprezando o fato de que arte e política sempre estiveram associadas).