Lista de desejos imediatos
Uma pessoa (eu mesmo) me perguntou o que eu quero da vida.
Eu quero entupir os ouvidos de música, pois cada uma das doze notas musicais disponíveis no mercado fonográfico é uma massagem diferente nos tímpanos, e é uma droga que anestesia meu entorno.
Gostaria de ler mais, mas fico com a cara entupida no celular ou pensando na morte da bezerra e fico como um zumbi deitado, inútil. Ter meu espírito sobre rédeas curtas é um desejo interessante.
Gostaria de escrever mais. Porém, me sinto como um profeta dos tempos bíblicos que só fala mediante procuração divina. Eu não falo por mim mesmo. Eu escrevo quando um raio imaginário estronda no céu e cai no alto da minha cabeça, aí me dá um estalo e começo a tagarelar no teclado. Aí lembro do Nelson Rodrigues, que se estropiava de escrever teatro e crônica. Vejo a vida desse homem e me pergunto: como ele fazia isso? como ele escrevia com tanto rigor, e com tanta constância (e escrevia muito bem!). Às vezes leio algo e fico inspirado. Às vezes penso numa frase marcante e desenvolvo todo um castelo literário em torno desse tijolinho, de um pensamento ou de uma tese. Mas parece que é só assim. Nem sempre consigo espremer uma crônica do nada.
Gostaria de ter certa profundidade nas minhas ideias, mas parece que sou verborrágico apenas por ser, e brinco com as palavras só pelo gosto de escrever.
Também quero de mudar um milhão de coisas em mim, que não valem a pena compartilhar na internet.
Ah, também gostaria que descobrissem a cura do câncer.