Silvio Santos diluído

Polêmicas à parte e sem repetir o que todos já sabem sobre Silvio Santos, seja bom ou seja ruim, o que observei de meu ínfimo e limitado ponto de vista é que o Brasil não parou no dia 17 de agosto de 2024.

Pensava-se isso em outra época. Aqueles tempos em que ainda não tínhamos internet em casa e muito menos na palma das mãos, ou mesmo depois que ela chegou em nossos enormes computadores domésticos, ainda era muito simplória, "tudo mato". Pensava-se que no dia em que Silvio Santos morresse... nossa!!! O Brasil ia parar! Como quando morreram, por exemplo, Ayrton Senna e os Mamonas Assassinas. Mas isso foi naqueles tempos.

O Brasil não é o mesmo de décadas atrás, nem a televisão, nem o público. A cultura popular não tem mais a mesma dinâmica e conteúdos como antes. Antes, a grande maioria da população convergia no entretenimento televisivo, e o que vinha pela tela daqueles caixotões era o assunto que unia a todos por dias, semanas ou meses. Mas, nos tempos atuais, até mesmo aquele que outrora foi o rei da nossa TV, o homem do baú já estava longe de ter a mesma presença em nossas vidas.

É curioso pensar que as gerações mais novas, mesmo que conheçam Silvio Santos e até se informem sobre sua história, nunca vão entender, nunca vão absorver a figura que ele se tornou para nós, que crescemos assistindo a TV aberta dos anos 90 ou desde antes, e já compartilhávamos seus memes, porém de outro jeito: o boca-a-boca. Afinal, quem entre os millennials nunca repetiu seus bordões, fez brincadeiras com elementos de seus programas ou mesmo arriscou uma imitação? Se não fizemos essas graças, com certeza vimos pessoas próximas fazendo.

Um Brasil dentro do Brasil compartilhou a comoção por sua morte, e eu mesmo fui inundado por um mar de lembranças recheadas de nostalgia de forma muito especial, pois sou formado em publicidade e propaganda, e a comunicação e a criatividade são ingredientes significativos para mim nessas memórias. Por isso, todo o "Universo Silvio Santos" me toca em outras camadas de admiração e divertimento, não só como parte do público, mas também com olhos de quem já transitou nessa área de criação.

Porém, a despeito de uma grande quantidade de pessoas comovidas, o apresentador-empresário nos deixou numa época em que o impacto de sua morte talvez tenha ficado um tanto diluído no caos atual em que vivemos, caos esse feito de internet, redes sociais, bolhas, informações incessantes e velozes, e inúmeras celebridades que se proliferam igual gremlins e que movem públicos novos e muitos mais fragmentados, cada vez mais distantes dos sucessos de épocas passadas. Muito se fala, inclusive, do crescente enfraquecimento da televisão em termos de alcance e influência, salvo exceções, então, por essas e outras, como comparar o Silvio Santos em seu auge e o Silvio Santos em 2024? Embora puxe atrás de si todo um legado, quem morreu foi o Silvio em 2024. Quando se pensava que o Brasil ia parar com esse acontecimento, não se pensava que essa morte se daria com ele já muito idoso, doente e internado, com o público disperso e com a "programação Silvio Santos" já não tão enérgica e envolvente.

Essa é minha visão, que pode estar equivocada, afinal, é a visão que tenho aqui de minha bolha. Foram muitos vídeos, muitas reportagens, muitas homenagens, muitas postagens das mais diversas sobre o falecimento mais emblemático dos últimos tempos, mas com a impressão de que, assim como os programas de TV, todas essas publicações encararam uma concorrência muito grande: o resto da realidade de hoje, muito maior do que era antes.

Gustavo Carnelós
Enviado por Gustavo Carnelós em 22/08/2024
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