Uma crônica sobre a solitude

A solidão era uma velha companheira, e com o passar dos anos, tornou-se mais que uma conhecida — era quase uma amiga.

Nos momentos mais silenciosos da noite, quando o mundo adormecia e as luzes se apagavam, ela sempre estava lá. Sentava-se calmamente ao lado da cama, aguardando o inevitável momento em que os pensamentos mais profundos emergiriam. Era nesses instantes que a solidão se revelava em toda a sua glória e complexidade.

No começo, doía perceber que não havia ninguém para compartilhar as alegrias ou afagar as mágoas. A casa, antes cheia de risos e conversas, agora ecoava em silêncio. Mas, com o tempo, essa dor foi se transformando. A solidão deixou de ser uma punição e passou a ser uma companheira.

Nos braços da solidão, comecei a enxergar belezas que antes passavam despercebidas. Os detalhes mais sutis da vida ganharam nova dimensão. O canto dos pássaros ao amanhecer soava como uma sinfonia. Cada pôr do sol trazia cores que pareciam ter sido pintadas por artistas divinos.

Aos poucos, a solidão revelou seus dons. Trouxe paz e autoconhecimento. Permitiu-me ouvir a voz que tantas vezes se perdia no burburinho do mundo. Foi nesse silêncio compartilhado que descobri a capacidade de amar a mim mesma. E, quem ama a si, jamais está verdadeiramente só.

Há uma sutil, porém importante diferença entre solidão e solitude.

A solidão é dolorosa, é a ausência do outro de forma indesejada. Ela traz consigo a sensação de vazio, de não pertencimento. É aquela dor surda no peito quando percebemos não haver ninguém conosco.

Já a solitude é uma escolha, é a companhia voluntária de si. Ela não é resultado da falta, mas sim da plenitude da própria companhia. Quando estamos verdadeiramente sós, mas em paz conosco, experimentamos a solitude.

Ao longo dos anos, aprendi a transformar a solidão em solitude. Fui substituindo a dependência dos outros pela certeza de que, onde quer que eu esteja, estarei sempre em boa companhia — a minha.

Claro, ainda há momentos de saudade, de querer dividir risos e angústias. Mas esses anseios já não carregam a dor da solidão; são apenas lembranças ternas do quão preciosos podem ser os laços.

A solitude me proporcionou uma paz que a solidão jamais traria. Nela encontrei respostas que nem sabia procurar. Aprendi a amar cada minuto, cada detalhe, porque era tudo que eu tinha.

E, no fim, descobri que era exatamente o suficiente.

Thais de Paula
Enviado por Thais de Paula em 21/08/2024
Reeditado em 22/08/2024
Código do texto: T8133794
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