Aceita um café?

Tem feito muito frio nos últimos dias e acho que por isso tenho tomado mais café do que o normal. Não que em dias quentes eu tome pouco. Tomo bastante também, só que menos. Porque café não requer clima específico algum. Basta que se tenha vontade e que se deite a água quente sobre o pó no coador, para que se possa sentir o cheiro divino que o contato entre essas substâncias nos traz. Eis uma das mais divinas bebidas de que se tem notícia em nossa curta existência humana, o café.

Não sei bem ao certo quando que o café se tornou tudo isso para mim. Mas, há um bom tempo o consumo diariamente. O dia se torna muito difícil sem ele. A sensação que me causa senti-lo descer goela abaixo é revigorante. Quando minhas papilas gustativas sentem o amargor da bebida, meus sentidos se despertam e muita coisa desperta junto. Posso dizer até que sem ele as minhas atividades se tornam um pouco mais lentas.

O café é termogênico, desperta e motiva. É bom tomá-lo antes de uma atividade física, por exemplo. Para alguns, atrapalha o sono. Que pena. Pra mim, não. Nunca perdi o sono por causa dele. Na verdade, perdi o sono poucas vezes na vida. Espero continuar assim, tomando o meu café quentinho e dormindo bastante.

Esse líquido tem embalado boa parte da minha vida nos últimos anos. Não só a minha vida, mas um período significativo da história do Brasil. Muitos conhecemos a trajetória desse grão, que chega ao país na primeira metade do século XVII, vai se espalhando pelo território nacional, cresce em terras do Sudeste, se torna o principal produto da economia brasileira e blá, blá, blá. Não creio que isso influencie no nosso consumo, até porque não estamos nem entre os dez maiores consumidores do mundo. Mas, não há nada mais acolhedor do que chegar a algum lugar e ouvir “O senhor aceita um cafezinho?”. É como se nos pegassem no colo numa tarde fria, nos envolvessem com uma manta fofinha e nos embalassem. Ah, como isso encanta e aconchega, embala e acaricia. Parece que até nossa alma fica aquecida.

E o cheiro do café? Penso que não deva haver gente que não goste. Aquele aroma envolvente, espesso e pesado que preenche todo o ambiente é capaz de deixar qualquer lugar com cara de lar. Sempre que chego a algum local onde se sente o cheiro de café fresco, já tenho um pouquinho de sensação de casa, mesmo que seja em um escritório, bar, lanchonete e até mesmo nas escolas em que trabalho.

Lembro-me que, quando criança, precisava ir com minha mãe a Santos, cidade vizinha, de ônibus. Ela encontrava lá alguns artigos de decoração de festas infantis, na loja “Tio Patinhas”. Durante muitos anos ela trabalhou com isso. O trajeto levava cerca de 45 minutos e esse tempo dentro do coletivo me causava um enjoo terrível. Sentia náuseas fortíssimas e um pouco de tontura. O ônibus estava quase sempre lotado, o que só piorava o meu suplício. A minha sorte é que nos minutos finais da viagem, talvez umas cinco ou seis quadras antes do ponto em que descíamos, havia uma fábrica de café. Acredito que até hoje ela funcione, não tenho certeza, já faz um tempo que não passo por lá. O cheiro de café era fortíssimo, dominava as ruas e isso me salvava. Buscava sempre estar próximo a uma janela naquele momento. Colocava meu rosto pra fora para aspirar aquele aroma reconfortante, terapêutico e aliviador. A cura era imediata. Me sentia novo em folha, revigorado e animado para passear pelo centro da cidade. Minha mãe já sabia desse remédio e esperava ansiosa por esse momento, pois assim poderia fazer suas compras sem a preocupação de ter consigo um filho nauseabundo.

Nessa época, eu ainda não gostava de beber café, mas ali se iniciava a nossa história de amor. Sou muito grato à fábrica do Café Floresta (penso que seja essa a marca) por me salvar de tardes incômodas com enjoos torturantes. Graças a ela pude conservar boas memórias dessas excursões como acompanhante de compras de minha mãe. O café cura enjoos, aquece o corpo, envolve a alma e aproxima pessoas. Aceita um café, querido leitor?

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Thiago Sobral
Enviado por Thiago Sobral em 21/08/2024
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