O TEMPO DAS PEQUENAS COISAS
Sempre gostei de caminhar pelas ruas do meu bairro nas primeiras horas da manhã. Hoje, especialmente, algo me fez parar e olhar para a árvore em frente à padaria. As folhas que antes estavam verdes e vibrantes agora começavam a amarelar, caindo suavemente no chão. Foi nesse momento que me dei conta de como a passagem do tempo se revela nas pequenas coisas.
O tempo é uma dessas forças invisíveis que molda nossa vida de maneiras que muitas vezes não percebemos. Ele se manifesta nos detalhes que, de tão rotineiros, passam despercebidos. Aquele livro na estante que você prometeu ler "quando tiver tempo", a planta que antes crescia exuberante e agora parece cansada, ou a velha poltrona que ainda guarda a forma do corpo de alguém querido que já se foi. São essas pequenas mudanças, quase imperceptíveis, que nos mostram o quanto o tempo avança sem pedir permissão.
O tempo, no entanto, não é um vilão. Ele também é o responsável por curar feridas, amadurecer ideias e construir relacionamentos. A amizade que começou com um simples "olá" e que, ao longo dos anos, se fortaleceu com conversas, risos e confidências. O tempo que se leva para dominar uma habilidade, praticando um pouco a cada dia, até que se torna uma segunda natureza. Tudo isso é obra do tempo, que, silenciosamente, vai tecendo a trama das nossas vidas.
Mas o tempo também tem seu lado cruel. Ele nos escapa pelos dedos quando mais precisamos dele, e às vezes parece se arrastar quando desejamos que passe rápido. A espera por uma notícia importante, o momento difícil que parece nunca acabar, ou aquela fase da vida que você gostaria de eternizar, mas que sabe que inevitavelmente vai passar. O tempo nos lembra que, por mais que tentemos controlá-lo, ele segue seu próprio ritmo.
E assim, vivemos entre o desejo de que o tempo acelere e o anseio de que ele desacelere, equilibrando-nos entre o agora e o depois. É esse paradoxo que nos torna humanos, sempre tentando fazer as pazes com o tempo, enquanto ele segue seu caminho, imperturbável.
Voltei a caminhar e deixei a árvore para trás, com suas folhas dançando ao vento. Aquele momento de contemplação me fez perceber que, por mais que eu queira, não posso parar o tempo. Mas posso aprender a valorizar cada uma das pequenas coisas que ele toca. Porque, no final, são elas que compõem a nossa história.