Porque ser pai é muito bom
Tornei-me pai há oito anos, quatro meses e uns dias. Até hoje não consigo me sentir tranquilo com esse fato. Não que ele me incomode, de forma alguma. Mas por parecer tão improvável que algo tão sublime e grandioso possa ter parte de sua origem em mim. Já me acostumei a ser pai, não me imagino sem esse título e, principalmente, sem o ônus que esse nome traz. Digo ônus porque é um trabalho imenso cuidar e educar uma criança. Mas este é o trabalho mais gratificante e reconfortante que já tive: ser pai da Helena. É até melhor trocar ônus por bônus, porque ônus não combina com ela. E caso ela leia esse texto, vai perguntar o significado dessa palavra e com certeza vai ficar muito brava.
Porque a Helena é assim, bem bravinha com algumas coisas. E adora fazer um drama em certos momentos. Logo que nasceu, chorou alto, bem alto, por mais de uma hora. Continuou chorando por muitos anos quando qualquer coisa não lhe estava a contento. De uns tempos pra cá, aprendeu a fazer drama e percebeu que isso combina mais com a idade de agora. O choro fica guardado para coisas mais graves e sérias. Mesmo com isso, ela é um encanto. Seus cabelos castanhos e cacheados a deixam tão magnífica! No centro do rosto, os dois olhos cor-de-mel lhe acendem a alma em cada olhar vívido que me lança. Como me sinto bem quando ela está por perto!
E ela me testa a todo momento. Me testou no dia em que descobri que ia ser pai, porque era um dia terrível, em que eu estava muito nervoso resolvendo problemas de uma batida na traseira do meu carro. Me testou ao me fazer aprender a cuidar de um bebê, trocar fralda, dar banho, alimentar, essas coisas. Me testou quando me senti obrigado a aprender a cozinhar, caso o contrário, comeríamos sempre comida de fora.
Mas o que ela me testou mesmo foi na capacidade de amar e cuidar. Eu jamais imaginei que era possível amar assim. Bastou que ela passasse a existir para que eu me desse conta disso. Um amor puro, genuíno, sem reserva para nada. Um amor que se lança por inteiro e que me faz bem demais. Cada vez que olho para ela sinto o coração dilatar.
O cuidado é outra coisa que se potencializou em mim por causa dela. Cuido de tudo o que posso. Faço inúmeras coisinhas e ela, que não é nada boba, se aproveita das situações e me pede coisas as quais já é inteiramente capaz de fazer sozinha. Até quando lavo as roupinhas dela e as estendo no varal, sinto uma doçura aconchegante.
Pensar em todas essas coisas e contar assim, acaba mostrando um olhar idealizado da minha parte. Mas não é. Não é nada perfeito. Há muita luta e dificuldade, muito erro e confusão, muita, muita tentativa de não ser tão ruim assim. O desafio é diário e constante. Mas é recompensado a cada momento com ela, a cada brincadeira, cada abraço, cada "te amo" ouvido e falado.
A Helena tem crescido rapidamente e como isso me assusta. Ela faz questão de estar comigo todo o tempo possível. Quero e tento aproveitar ao máximo todos eles, porque sei (e temo) que um dia haverá passeios, festas e compromissos com os amigos que vão ocorrer nos momentos em que ela costuma ficar comigo. E como sei que criamos filhos para a vida, ficarei feliz vendo-a expandir seus círculos sociais e se tornando adulta, apesar do coração ir ficando apertado com isso. Se ela quiser, vou levá-la, buscá-la, ou aguardarei sua chegada, tal qual a raposa do pequeno príncipe. Afinal, ela me cativou e eu me deixei cativar por ela desde o início. O mais importante é que ela continue tendo em mim a sua segurança e o seu conforto.
Ao longo desses anos, muitas foram as grandes felicidades que ela me proporcionou. Quando, por exemplo, falou papai pela primeira vez ou deu os primeiros passos (coisas clichês, mas que marcam todo pai). Mas, outras tantas coisas que se aconchegaram no fundo da minha alma e que me aquecem o coração toda vez que as trago ao pensamento pela memória. Eu adorava ouvi-la falar as palavras errado, do seu jeito todo particular. “Bernuga” é uma delas. Ao ver eu me arrumando para sair, ela olhou pra mim e perguntou “papai, você vai com essa “bernuga”?”. A minha risada foi tão alta que a ouço até hoje. Me arrependo por não ter feito um “Glossário da Helena” em seus primeiros três anos de vida.
Hoje, não são apenas três anos, mas oito e ela já parece uma mulher adulta, em alguns momentos. Não perde a oportunidade de dar opinião sobre as coisas, sabe ser debochada, gosta de roupas, calçados e maquiagens. Já é capaz de gastar um tempo considerável se arrumando antes de sair. E vê-la assim, crescendo e formando sua própria personalidade, me faz feliz demais. Mas, ainda que esteja crescendo rápido, não perdeu o ar de minha bebê (ela também não gosta que eu fale assim) em muitos momentos. No abraço sincero, no beijo carinhoso, nos pedidos para que eu fique um pouco deitado ao seu lado e na hora de brincarmos junto, a minha menininha sempre se manifesta e me faz lembrar dela pequeninha, embalada nos meus braços.
Quando lembro de tudo isso, uma lucidez imensa invade a minha mente e me faz ter certeza mais uma vez de que sou feliz por ser pai dela. E celebrar, hoje, pela oitava vez essa data é a oportunidade de agradecer a ela por me permitir sentir o amor dessa maneira. E de ter mudado toda a minha vida para que a Helena fizesse parte dela e a tornasse muito melhor. Aos homens que não são egoístas, digo: não tenham medo de ter filhos, porque ser pai é muito bom.
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