A CONTADORA DE NOVELAS
Sempre que o grupo de amigos se reunia eram muito as histórias contadas. Todos eles eram militares aposentados que aproveitavam desses encontros para recordar passagens de suas mocidades.
Foi num desses encontros que o tenente Sérgio Luiz trouxe uma história muito curiosa, que a todos prendeu a atenção.
Quando criança, Serginho, como era chamado, costumava passar as férias na casa da vó na cidade fronterista de Jaguarema.
Essa pequena cidade de pouco mais de dois mil habitantes, era separada pelo rio Torto da cidade vizinha de Linhares. Cidade menor ainda, onde a energia elétrica ainda nem havia chegado.
Na época, a vó, dona Chica, era assídua ouvinte de novelas de rádio. Não perdia um capítulo, os quais muitas vezes levavam às lágrimas, tamanho o sentimento que os locutores colocavam na voz, para retratar todo o drama das histórias.
Serginho, então com seus oito anos, acompanhava a vó, que nos finais de tarde atravessava a pequena ponte e ia visitar as amigas na cidade vizinha, ocasião em que era sempre contado um capítulo da novela.
E assim os amores e desamores, os sorisso e as lágrimas, todos
os dramas dos personagens atravessavam águas e ares.
Hoje, o aposentado Sergio Luiz, ainda se pergunta como não seguiu carreira artística por influência da vó. Mas ficou com ele a certeza de que o carinho de dona Chica com suas contações de novela alegravam os corações e iluminavam a noite das moradoras do outro lado do rio.