O dia em que roubei a minha bicicleta

Todo ladrão deve ser perdoado depois da pena.

Escrever é um prazer. As palavras são poderosas. Quando John Lennon disse que era "Mais popular que Jesus Cristo", o mundo virou de ponta-cabeça. Alguns críticos disseram que a Beatlemania tinha acabado. O tempo passou e nada mudou.

No auge da Beatlemania, meu pai comprou uma bicicleta da fabricante Husqvarna modelo 1950 para minhas irmãs mais velhas. Não vi nenhuma delas usando essa bicicleta. Para entender como ela era, basta dizer que foi comprada em um ferro-velho. Ela não tinha os para-lamas e a garupa. Era uma bicicleta feminina.

Eu adotei a "magrela" por elas não gostarem do que viram. Pedalava pelo bairro todos os dias. Não sei por que nem como desapareceu. Ninguém sabia do seu paradeiro. Eu fiquei por muito tempo olhando para as bicicletas que passavam na porta da minha casa e não vi nenhuma igual a ela.

Um belo dia, quando não tinha mais esperança de encontrar a minha "magrela" ela passou sob os meus olhos. Um policial serelepe pedalava a dita cuja. Eu sabia que era a minha, tinha certeza. Eu havia dado a ela, uma demão de tinta a óleo. Como demorou demais para secar a poeira tomou conta do quadro. Ficou parecendo que ela estava arrepiada.

Segui o gatuno por três quarteirões até que ele parou em uma loja que vendia retalhos de pano. Sem saber de nada, deixou a relíquia encostada na parede, quando entrou pela porta da frente, não tive dúvida. Agarrei a coitada e saí em verdadeira correria, pedalei feito um louco até a minha casa. Tive um pouco de dificuldade, o selim estava mais alto do que o que eu estava acostumado. Eu não tinha como provar que ela era a minha. Naquela época, as bicicletas eram emplacadas no Detran. A minha, como foi comprada em um ferro velho, já não ostentava tamanha identificação.

Fiquei radiante quando apalpei os pneus. O da frente estava novinho. Quando o meliante a levou, ele estava em pé de miséria. Vou lhe contar o que fiz, mas por favor, não acredita em mim. Como a câmara de ar não suportava mais remendo, a substituí por três pedaços de uma mangueira dessas de molhar jardim, para ficar mais firme, enchi os espaços vazios com pedaços de jornal. Infelizmente ficou um horror!

Acredito que o meliante ficou feliz por ter se libertado da "magrela". Mal sabia ele que o quadro estava empenado. A roda da frente não combinava com a de trás. Dois meses depois, ela voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído.

E vamos que vamos...

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 20/08/2024
Código do texto: T8133115
Classificação de conteúdo: seguro