O ASTRONAUTA EM PARIS

     E lá vou eu rumo a Paris, levando no compartimento de carga meu asno conhecido sertão afora pelo nome de Astronauta, para buscar o cobiçado ouro na prova de hipismo. Chegando todo eufórico, no desembarque fui comunicado grosseiramente pelo comitê organizador que minha montaria não estava adequada para competir com os equinos inscritos nos Jogos Olímpicos, porque, além de nanico, lhe faltava o charme, a elegância e o pedigree de um cavalo andaluz. Que decepção! Confesso que não esperava tamanha discriminação, algo deplorável, considerando-se a aptidão física e mental do Astronauta. Até pensei em retaliação, uma vez que o Astronauta se negou a molhar os cascos das patas dianteiras no Sena, refugando suas águas excrementosas.

     Saltar cavaletes de 1,30 m para quem transpõe cercas de 1,50 m em busca das exuberantes asnas que desfilam livres, leves e  soltas nas  verdejantes  pastagens do nordeste é café pequeno para o inveterado conquistador Astronauta.

     Com os olhos que a terra há de comer, vi o Astronauta, quando transportava duas ancoretas cheias de água, desembestar aos pulos quilométricos buscando impressionar, pela performance, uma linda égua que trotava displicentemente ao seu redor.

     Agora sair do Brasil para ser rejeitado, humilhado, lá em Paris, sob olhares desaprovadores dos elitistas competidores, fere o orgulho de qualquer asinino que tenha vergonha na cara.

     O que mais me conforta é que os cavaleiros castiços representando o Brasil com suas caríssimas montarias não trouxeram medalha alguma. Se fosse o exímio Astronauta no meio daquelas luxuriantes e saltitantes éguas, no mínimo teria trazido umas três medalhas de ouro, sem esquecer o fato de que também seria papai de duas futuras burrinhas parisienses. Bem feito pra vocês!

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)