DOAM-SE CÃES

Acabo de ler a notícia “Índia proíbe pássaro na gaiola”. Sinto realmente que a alegria me invade, mesmo em um país distante, saber que os pássaros daquele lugar vão poder voar livremente é algo belo e que me soa muito justo. Afinal eles têm asas e a liberdade é uma urgência que não sabe esperar.

Por que o egoísmo humano tem dessas coisas, aprisionar um serzinho tão doce que nasceu para as alturas? Por mais lindo que seja o canto, nada vale o sofrimento e a privação impostos. Confesso que dou razão ao escritor Saramago, quando disse: “Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais”. Eles são muito melhores que nós em inúmeros aspectos, nem vale citar, quem os conhece sabe bem.

Com eles aprendemos lições de lealdade e companheirismo. Eles não ligam para roupa que vestimos, ou nossa posição social. Só têm pureza no olhar. Feliz quem consegue enxergar isso. Quem não os veja como mais um produto que adquirimos. Quem não os substitua, porque entende que são únicos. Não estou dizendo que devemos humanizá-los, como muitas pessoas do alto de suas carências afetivas o fazem, pois isso não é saudável nem pra eles, tampouco para os donos.

Esses dias pude presenciar um colega de trabalho oferecendo seus dois cães de estimação, porque vai mudar para um apartamento menor. Penso que essa pessoa não sabe o real significado da palavra amor, talvez nem mesmo amizade. Achei realmente que isso fosse um sinal para não aprofundar o relacionamento com a pessoa, afinal, já dera uma mostra definitiva de que confiança não é seu forte.

A pior forma de crueldade é o abandono e o que mais vemos nas ruas são animais nessa condição. Pessoas que vão viajar e descartam seus animais nas sarjetas. Nessa hora, gosto de lembrar o texto de Eclesiastes, que diz “o destino do homem é o mesmo do animal; o mesmo destino os aguarda”. Nesse caso, faço votos de que a palavra seja literal e que um dia essas pessoas possam experienciar esse sentimento, mas também peço a Deus que os dê uma segunda chance. Uma segunda chance com um peixinho beta, é claro.