PREVISÕES PARA O FUTURO

Bruxos, religiosos, místicos, matemáticos e até programas de computador afirmam que 2008 seremos muito melhor do que 2007; talvez a intenção destes pseudos sábios seja a de mostrar ou querer, que todos cometam menos excessos do que no ano que passou, transformando naturalmente o novo ano em um poço de esperanças para uma vida melhor.

Sabemos, entretanto, que nada é como o programado, até mesmo por que o ano de 2007 somente terminou para quem segue o calendário gregoriano ou os que são ou estão próximos dos ensinamentos cristãos. A maior parte do mundo, podendo citar a China como exemplo, adota outro tipo de calendário e por conseqüência, uma outra contagem de ano.

Existem os otimistas, os pessimistas e os inertes quando se trata de previsão de futuro. Na primeira gama, os que torcem sempre por um ano melhor, vêem flores em tudo e estão sempre dizendo que o amanhã será melhor do que hoje e satisfatoriamente suficiente melhor do que o ontem, mas, por incrível que pareça, não fazem nada para que isso ocorra; não trabalham por um mundo melhor, mais justo, menos doloroso. A maior parte destas pessoas tenta profetizar um ambiente mais agradável e freiam justamente aí, na tentativa verbal.

Na outra ponta, existem os que torcem por mais desgraças, mais avarias e mais injustiças; somente desta forma há prazer interior e algumas vezes, prazer financeiro; é que muitas pessoas vivem da desgraça alheia. Pode parecer que estas pessoas sejam poucas, mas não são; os que prevêem um futuro pior são muitos e cresce cada vez mais o número de asseclas o que torna o ambiente onde convive um verdadeiro inferno.

No grupo dos inertes está a maior parte da população; se o ano for melhor, bem; se for pior, bem também. A maior parte da população não está nem aí se a situação coletiva vai melhorar ou piorar; eles querem apenas que suas vidas sejam beneficiadas de alguma forma; no barato, que as vidas daqueles que estão muito próximas também recebam algum benefício, mas para os demais, se alguém morrer de fome, resta apenas o lamento circular momentâneo de um fragmento de momento. Geralmente no grupo dos inertes é que habitam os hipócritas.

Antes de escrever esta crônica eu lembrei da vida de Jesus Cristo e na Bíblia Sagrada, a história dos fariseus. Os fariseus eram judeus que se originaram lá por volta do século II AC e que durante séculos fizeram oposição ferrenha ao cristianismo por conta do medo de suas leis orais serem abaladas. Na região que conhecemos hoje por Jerusalém, este grupo de pessoas viviam a deleite dos bons ventos, ou seja: iam onde havia alguma beneficie e se os tais ventos ameaçam parar, logo eles tratavam de mudar a vida de alguém para que soprasse em sua direção.

Este ano no Brasil, haverá eleições municipais. Em outubro próximo iremos às urnas eleitorais para escolhermos os membros do parlamento municipal e os mandatários das cidades brasileiras e agora, em janeiro, é que começamos a ver e ouvir quem é que está de olho nas cadeiras que ficarão vagas no próximo ano das câmaras e prefeituras. Grande parte destes homens e mulheres começou cedo a prever o futuro político destas cidades, seja distribuindo dentaduras, para um mundo menos banguela; seja dando leite e pão, para um mundo menos faminto; seja ensinando a trabalhar e criando oportunidades de mais profissionais, para um mundo menos ocioso. Quaisquer uns destes generosos homens cheiram a falcatrua ou no mínimo, desviados de suas funções naturais.

Não é de competência de um vereador dar ambulância a uma comunidade, muito menos pagar próteses inúteis aos que deixou seus dentes numa lata de lixo. Não é de competência de nenhum pretendente a mandatário municipal dar canetinhas se quem as recebe nem sabe ler ou escrever. É de competência destes homens e mulheres, através de seus conhecimentos, honestidade e ética, proporcionarem aos seus munícipes projetos de leis, fiscalização do dinheiro arrecadado e um conjunto de execuções práticas, capazes de fortalecer a sociabilidade de um lugar.

O prefeito precisa saber gastar o dinheiro público em obras sérias; obras capazes de mudar a vida; seja do morador da favela, seja do condômino de alto luxo. O conjunto de medidas adotadas pelo mandatário do município deve atender igualmente o rico e o pobre de forma que todos convivam harmoniosamente em sua cidade, afinal, nem todos possuem a mesma sorte financeira, mas nem por isso, por serem ricos ou pobres, é que devem ser excluídos de qualquer processo.

O edil, homem da vereança, é os escolhido pelo povo para fiscalizar, sugerir e cobrar do mandatário as ações que beneficiem o povo – coletivo –. Acontece que no Brasil, vereador é sinônimo de assessor do prefeito ou oposição. Raramente vemos uma câmara trabalhar de acordo com suas reais atribuições e o resultado disso é o desnivelamento político e social de todas as ações que envolvam o povo, o executivo e o legislativo, colocando em ação o outro poder, o judiciário, que terá a incumbência de resolver um conflito, um litígio.

Eu ainda não descobri a qual grupo pertenço; em se tratando dos que gostam de prever o futuro, mas sei que este ano vai ser barra pesada. Teremos que escolher os novos homens do executivo e legislativo municipal e ainda torcermos para que o novo mandatário maior dos Estados Unidos da América, que será também escolhido este ano, consiga discernir sobre os temas polêmicos do mundo, sem fanatismo ou pessoalidades.

Eu deveria ser um otimista, daqueles que trabalham para fazer um futuro melhor, mas para não ser mais um hipócrita, prefiro não arriscar uma profecia ou um palpite. Apenas espero que este ano tenhamos mais pessoas capazes de afirmar, que juntos, poderemos fazer um Brasil muito melhor do que sempre foi, com menos cínicos, menos aproveitadores.

Poderemos dar um grande passo se soubermos entender com brevidade se estes novos e velhos políticos que disputarão um cargo em outubro são pessoas comprometidas com a verdade e se possuem de fato uma carreira pública sem nós ou veredas ou então, estaremos fadados a ver, cada vez mais, episódios de desvios de dinheiro público, aliás, milhões e milhões de dólares, enquanto a maior parte da sociedade, aquela que trabalha duro, morre de fome ou estará cada vez mais nas esquinas das grandes cidades disputando as míseras moedas que os senhores possuem nos bolsos ou num cantinho escondido do carro.

Pode não parecer simples apenas escrever, mas eu tento seguir a mesma linha de raciocínio do Professor, Doutor, Senador, Cristóvão Buarque, que pretendeu um dia ser mandatário do Brasil, e começar a mudá-lo através da educação, mas que teve o sonho sucumbido pela própria ignorância popular que sequer deu-lhe ouvidos. Ainda é quase impossível ver uma nação de bastardos ignorantes, dar crédito a alguém de refinada cultura e de valor indiscutível.

Se não começarmos a observar e valorizar mais, detalhes como estes, poderemos quem sabe, ver no Brasil, num futuro próximo, um estado crítico, vulnerável e assustador, da mesma forma que hoje é a Venezuela e Colômbia; aqui, bem pertinho de nós.

No final do ano eu estive entre o Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai e no Departamento de Alto Paraná, Paraguai, estive com deputados e o candidato a Presidente Lugo, do Movimento “Tecojoja” e lá eu escutei uma coisa que me alertou: a América do Sul está vivendo momento similar aos das décadas de 60 e 70 e isso pode influenciar negativamente o restante do mundo. Segundo os esquerdistas paraguaios, isso é fruto do analfabetismo e da ignorância política.

Isso não é previsão e sim um aviso claro... Bom 2008 a todos!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

www.irregular.com.br

Fotos: (1) – Ilustração, (2) – Eugenio Rojas – Deputado do Paraguai (Carlos Henrique Mascarenhas Pires)