O castigo de Sísifo e o trabalhador brasileiro

A lenda de Sísifo é um dos mitos mais emblemáticos da mitologia grega. Condenado pelos deuses, ele foi sentenciado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar de volta ao vale assim que atingia o cume. E assim, repetidamente, Sísifo era obrigado a retomar sua tarefa, em uma punição eterna que beira o absurdo.

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Não é difícil enxergar na vida do trabalhador brasileiro o reflexo desse mito. Todos os dias, milhões de brasileiros se levantam antes do sol nascer, enfrentam longas jornadas de trabalho, transportes públicos lotados e uma rotina exaustiva. Empurram suas próprias pedras, que podem ser as contas que nunca param de chegar, os impostos que parecem sempre aumentar, ou as responsabilidades que se acumulam sem trégua.

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Assim como Sísifo, o trabalhador brasileiro vê o fruto de seu esforço ser constantemente dilapidado por forças além de seu controle. É o salário que, ao chegar ao fim do mês, já não tem a mesma força, corroído pela inflação, pelos impostos, pelos preços que insistem em subir. A pedra que ele empurra até o topo parece, a cada dia, mais pesada e difícil de conter.

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E quando finalmente consegue alcançar o topo, quando acha que terá um momento de descanso, a pedra começa a rolar ladeira abaixo. É a saúde que cobra o preço do esforço contínuo, são os direitos que, pouco a pouco, são reduzidos, é o sonho da aposentadoria que se afasta como uma miragem no horizonte.

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Mas, ao contrário de Sísifo, que empurrava sua pedra em um ciclo de desesperança, o trabalhador brasileiro ainda carrega dentro de si uma centelha de esperança. Mesmo com todas as dificuldades, ele sonha com um futuro melhor, acredita que, um dia, a pedra não rolará de volta, e o topo da montanha será, enfim, um lugar de descanso e conquista.

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Na vida de Sísifo, não há redenção, apenas a repetição de um castigo eterno. Mas no coração do trabalhador brasileiro, há a teimosia de quem não se entrega, de quem insiste em tentar, dia após dia, empurrar a pedra um pouco mais alto. Talvez, nesse esforço contínuo, esteja a grandeza da sua luta: a recusa em desistir, a força de quem acredita que, um dia, a pedra ficará no topo, mesmo que por apenas um instante. E nesse breve momento, encontrará o significado de toda a sua jornada.

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Que assim seja!

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MMXXIV