No tempo do circo

A sensação estava a baila na  Bernaldo Couto, corria de uma ponta a outra a novidade do momento.  A chegada do Circo Orlando Orfei  à cidade, que instalou-se na Visconde de Souza Franco,  a inusitada Doca, onde tudo acontecia.

Cedo da manhã Júnior e Higino, após o café  seguiram pra frente da casa do Pedrinho, como de costume pra brincarem de basquete  na castanheira, que ornava e sombreada aquela frente de casa amarela. Aproveitavam  o cruzar dos galhos ligados ao tronco parafraseando para eles uma cesta do tal esporte.

E numa disputa acirada entre os irmãos, despertavam a curiosidade, apreciada por Nazareno e Marcos, irmãos de Pedrinho, que devia ter ido a feira de Santa Luzia,  pra dona Dorinha,  pra não estar ali brincando com os meninos.

Quando chegou o Abelardo, Moisés e por fim o Paulinho  diabo com um saco,  com alguns gatos e a ideia de leva-los ao circo, pra dá-los de comida aos leões, trocá-los por ingressos.

Apesar da sensibilidade dos meninos ao bichanos, o poder de convencimento do Paulinho, aliada a vontade capital dos meninos de irem ao circo, a novidade, foi mais forte e decisiva naquela hora.Mesmo com os apelos dos irmãos e de dona Dorinha mãe de Pedrinho pra não fazerem aquela ação.

Enturmados seguiram direto na Bernaldo Couto em direção a Doca.

Passando a Vila Paulina, um gato rajadinho escuro entrou numa vila, onde morava o Albertinho , primo de Júnior e do Higino.

liderados por Paulinho correram pra pegar o gato, que assustado gritou e correu  de um lado para o outro, se vendo cercado não tendo como fugir e foi agarrado.

Nesse momento porém, vinha saindo da casa onde morava o Albertinho, que ao ouvir o miado do gatinho e  ver aquela arrumação falou:

- Ei podem parar.  O que querem com o gato da vovó?...

Paulinho não se fez de rogado e disse:

- Trocar ele por ingressos no circo.

De pronto Albertinho reclamou e apelou:

- Negativo. Podem deixar o gato , se não chamo a vovó.

E continuou:

- Me admiro de vocês Higino, Júnior, Abelardo fazendo essa maldade aos bichinhos. Soltem já ele daí.

Nesse momento, os meninos caíram em si e começaram a questionar o Paulinho, que ao perceber  a adesão de todos, quanto a soltura do gato, saiu de mansinho com o seu saco na costa pra evitar, que eles soltassem os outros.

Posto assim Albertinho falou:

-  Podem pegar outros gatos, mas esse não.  E se ele desaparecer já sei quem foi.

Então Higino falou:

- Corremos atrás sem saber de quem era o gato Betoca.

Albertinho continuo:

- Poxa Ginoca, vocês não tem pena dos animais?

Higino se defendeu:

-Sim, mas é  o Paulinho, que está pegando. Nós só estamos acompanhando.

Albertinho disse:

- É,   mais isso não diminui a culpa de vocês.

Enquanto discutiam Abelardo, que estava calado, pra encurtar a conversa falou:

- Deiixem pra lá isso é vamos lá... vamos lá Betoca ver o que vai acontecer?...

Albertinho mesmo com o pedido do Abelardo rejeitou  dizendo:

- Eu não vou não.

E os meninos seguiram viagem em direção ao circo.

Lá chegando, diante daquela imensa lona, branca com listras vermelhas e azuis Paulinho falou com um porteiro  e explicou o que tinha no saco.

Como moleques na maioria das vezes são enganados.O porteiro, pegou o saco com três gatos, deixou-os  entrar e quando pensavam , que iriam receber  ingressos,  ele os conduziu ao local de treino dos artistas. Onde o número a se apresentar era no trapézio.

Enebriados e empolgados com a novidade, com aquele ambiente mágico,  bem  ali em frente deles... cercados por leões, Girafas, acrobatas, cavalos e  palhaços, sob a rede de proteção dos malabaristas. Eles foram aconselhados a assentar-se nas primeiras fileiras de frente com o palco e nada questionaram.

Faziam gestos, riam e brincávam esquecendo de seus pedidos, até que Paulinho diabo saindo do transe gritou:

-  Eu e meus amigos não viemos aqui pra ver treino e sim receber ingressos pra assistir ao show a noite.

Que foi muito bem contra argumentado:

- Se quiserem é isso, do  contrário é nada.

Muito bem argumentado, os moleques se acomodaram.

Eis que a vingança é um prato, que se come frio e assim, sob a frustração e alegria dos moleques continuaram a assistir o espetáculo.

Foi quando um acrobata cheio de si, com sua parceira.  Lá do alto, do mastro mor gritou:

- podem tirar a rede de proteção.

Que foi vigorosamente divergido pelos ajudantes e palhaços.

Houve uma queda de braço de argumentado ao longe, que por fim, em parte, foi  vencido pelo acrobata.

Todavia palhaço é teimoso e deixaram apenas parte da rede desarmada.

Por ironia ou não do destino, com uma música alegre, os meninos em baixo a rirem, sendo chamados a atenção pra fazerem silêncio, enquanto lá  no alto o acrobata se concentrava pra  executar suas ações,  vacilou e despencou. Caindo sob gritos de desespero dos circences e risos dos meninos. Caindo exatamente na parte da rede ainda esticada, que evitou um mal maior. Só  não o  impediu de quebrar o braço, quando se enroscou a rede.

O braço todo torto, os palhaços tentavam ajeitar e o artista contra dizia:

- Não, não, não  quebrou não.

Enquanto os meninos incomodavam com suas ricas risadas, como se aquele desespero fizesse parte do espetáculo.

Não aguentando mais a espontaneidade vingativa dos meninos. O acrobata pediu pros seguranças os porem pra fora do circo.

Que no despejo deles ainda rindo a toa, Paulinho agressivo ainda  gritava:

- Me devolvam os gatinhos...seus bandidos. Quero meus ingressos...

E foi assim, naquele primeiro dia.