Paranoá, 22 de outubro de 2021.
Oi, Diário.
Faz tempo que não escrevo em você, para você. Bem, ando muito procrastinador mesmo.
Hoje é sexta-feira, aniversário da minha mãe. Eu não estou muito a fim de ficar na sala de aula, então convidei os alunos para sentar embaixo das árvores no terreno da escola. Daí lembrei que é aniversário da Dona Nil e pedi a eles que dessem os parabéns a ela. Fizemos um vídeo. Eles ficaram rindo depois.
Agora estamos escrevendo um diário. O bom é que essa atividade me obriga a escrever também. Estou precisando. Estou sempre precisando.
Preciso comprar canetas. As que eu ganhei, a Elyse pegou e levou para a escola. Agora eu não quero mais. Prefiro deixar para ela.
Ontem nós fomos levar o Guilherme ao shopping para comprar umas roupas que ele precisa para tocar num casamento. Camisa social branca, calça preta e “sapatos de pastor.” Depois de sair da loja, ele e eu fomos lanchar. As meninas ficaram escolhendo umas roupas lá. Aí eu vi uma promoção que achei interessante: uns copos do desenho Caverna do Dragão. Comprei o do Vingador. Voltei fazendo altas recomendações à Elyse para ter cuidado com meu prêmio!
Ao desovar as crianças, percebemos que minha sogra está com dificuldades para estudar. Nós oferecemos a ela que vá lá para nossa casa e use meu escritório, se ela preferir, e durma lá. Ela ficou de pensar. Ao chegar em casa, Elyse já foi lavar a louça e me recomendou, antes de dormir, que eu lavasse o banheiro.
Hoje de manhã, eu lavei o vaso sanitário. Realmente estava quase impraticável.
Bem, agora acho que vou parar. Foi muito boa essa experiência aqui sob as árvores. Até joguei umas mangas para alguém que estava tentando pescar umas no pé que tem aqui nessa parte da escola. As meninas se acabaram de rir. Os guris também.
Bom. Sou eu de novo. Agora estou com a outra turma aqui fora escrevendo diários. Essa turma é do terceiro ano. São apenas uma menina e um menino. Ela já escreveu na vida. Para ele, é a primeira vez.
Pedi licença ao autor e à autora e fui ao carro pegar meu casaco. Está fazendo um friozinho muito gostoso, mas meus cotovelos não aguentam mais. Por sorte muito conveniente, o carro acumulou energia térmica todo esse tempo em que esteve no estacionamento, o que aqueceu meu casaco. Que delícia!
Durante a leitura do diário da turma anterior, vi que um dos rapazes deita-se para dormir às cinco da manhã e frequenta academia a tarde inteira. Muito bom essa atividade do diário, pois eu recebo informações privilegiadas e muitíssimo úteis. Moleque falou que assiste Breaking Bad. Falei pra ele, depois de terminar a série, começar Better Call Saul. Mas falei pra ele ir dormir às 10h da noite e se alimentar direito, pois com a malhação ele perde muitos nutrientes e, com esse hábito de dormir mal, vai acabar arrumando uma doença.
Reparei que algumas meninas têm o hábito de escrever o texto a lápis e depois “passar a limpo” a caneta para, aí sim, me entregar. Falei para elas que isso não é o melhor método, porque atrasa o processo e pode até ─ como de fato ocorreu ─ impedi-las de entregar o resultado final. Eu disse que “se fosse no vestibular, a prova estaria incompleta e seria mais um ano inteiro esperando a próxima oportunidade.”
Ai, que saudade de ir ao cinema! Nada a ver falar isso agora, assim, do nada, mas é que bateu um solzinho aqui e deu vontade de assistir a um filme no estilo do “Capitão Fantástico.” Acho que o título é esse. Aquele do Viggo Mortensen.
Enfim, meu pulso já está doendo. Vou parar por aqui. Será que os alunos querem conversar agora?
Lá vamos nós para o meu terceiro diário. Agora estou novamente com o segundo ano. Eu gosto dessas turmas. O pessoal é muito simpático e pacífico.
Acho que não existe escapatória mesmo do recurso universal para se lidar com todas as situações envolvendo o povo: preparo. É preciso saber se preparar, planejar, arranjar as coisas, os trabalhos, para que se não fique encurralado. E não só isso: os benefícios, as recompensas, são enormes! O que as pessoas fazem por você quando você as coloca na lista de prioridades, bem no topo, é sempre carinhoso, acalentador. Tentar enganar os alunos nunca é uma opção.
Estou dizendo isso porque tem gente que coloca no povo o algo do jeitinho. Isso não é legal. Há de se respeitar quem faz de nós quem nós somos.
Eu queria mesmo era fazer um projeto com minhas turmas. Alguma coisa que estivesse relacionada com a escrita. Um jornal, um blog. Sei lá. Na verdade, eu não quero mais ficar falando sobre o que eu quero ou não quero fazer. Quero só fazer. Cansei de ter sonhos.
Além disso, agora não posso mais brincar de ser adulto. Até a arte se tornou pra mim um passa tempo, dimensão da que não disponho mais. Pelo menos por enquanto.
─Luiz Antonio de Souza Junior, sexta-feira.