Há um fenômeno que ocorre, em média, de oito em oito anos. E, tamanha exuberância acontece em razão de chuvas intensas que caíram, em março, naquele lugar que é considerado uma das mais áridas e secas zonas do planeta, no deserto de Atacama, situado ao norte do Chile. Tais chuvas operam autênticos milagres.
Originalmente, trata-se de uma paisagem inóspita que cede a vez para um manto coberto de flores de malva, constituindo assim um cenário fantástico. Infelizmente, não são as Rosas de Atacama, como as imortalizou Luís de Sepúlveda, mas são flores que pintam uma cena inesquecível. As mesmas chuvas que provocara, deslizamentos onde morreram vinte e oito pessoas trouxeram à vida mais de duzentas dementes que ninguém via germinar há muito. Há um simbolismo espiritual do deserto que enfeita o deserto.
O ambiente externo de silêncio do deserto evoca outro silêncio, o interno, capaz de nos esvaziar das rotinas do dia-a-dia e nos ajudar a acolher melhor a palavra e a semântica sagrada e humana.

O deserto evoca renúncia, desapego de tudo que é supérfluo e representa, ainda, um convite a cultivar o essencial e duradouro. Por fim, o deserto convida à solitude, o que não é o mesmo que solidão.

O teólogo Paul Tillich observou que solidão expressa a dor de estarmos sós, enquanto solitude expressa a glória de estarmos a sós. Diante da riqueza simbólica do deserto como imagem do percurso espiritual rumo à essencialidade. As flores ao meio do vazio nos preenchem de uma primavera interior, capaz de aguçar sentimentos e percepções.

As mais recentes chuvas no deserto de Atacama foram em 2015, entre 25 de março e 9 de agosto, e novamente em 7 de junho de 2017.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/08/2024
Código do texto: T8131456
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.