O Patinho Feio de Christian Andersen  e a Psicanálise.

 

 Se o povo diz que "quem ama o feio, bonito lhe parece", é porque é o Amor quem cria a Beleza. Mas é a Graça quem gera o Amor.

Olavo Bilac

 

 

Resumo: O patinho feio é rejeitado e só encontra a verdadeira sensação de pertencimento quando é apoiado por uma mãe forte, a qual conhece o seu papel feminino e o exerce de forma plena, pois a mãe forte consegue fazer com que a criança seja um adulto forte.

Outro ensinamento importante dado por Hans Christian Andersen é que a resiliência e a persistência são essenciais. Repare como o patinho feio persiste na sua jornada mesmo quando todos o humilham sucessivamente. O desfecho da história "O Patinho Feio", escrita por Hans Christian Andersen, é que o patinho que era considerado feio[1] e desajeitado pelos outros animais, eventualmente se transforma em um belo cisne. Não era pato. Não era feio. Simplesmente era cisne.

Palavras-chave: Sociologia. Psicologia. Psicanálise. Direito Penal. Maternidade.

 

 

Novamente, a linguagem simbólica é usada nos contos de fadas o que permite a criança tornar-se dum adulto mais preparada para os desafios de existir e sobreviver. A questão do pertencimento, a descoberta da identidade bem como as representações da maternidade na personalidade feminina.

A trajetória evolutiva do ser humano é longa e penosa e, desde a infância até a maturidade, perpassamos por diversas etapas de amadurecimento e, em cada fase as narrativas simbólicas ajudam a compreensão e solução de problemas humanos universais, principalmente, os que preocupam o pensamento infantil.

Tais narrativas vetustas e foram criadas bem antes da sociedade estar aparatada tecnologicamente como hoje se encontra a sociedade contemporânea. As narrativas ajudam a lidar com fatores complexos até se atingir a vida adulta. 

Através de fábulas e contos de fadas se pode oferecer à criança os meios para lidar com os fatos dinâmicos e intrincados, que podem e devem ser contornados seja racionalmente, seja emocionalmente.

O conto O Patinho Feio de Hans Christian Andersen, se baseou no estudo de Clarissa Pinkola Estés e Bruno Bettelheim na perspectiva na Psicologia junguiana, analisando os tipos de personalidades de mães, a partir da mãe do patinho feio. E, sob ótica de Freud o conto relaciona-se com a trajetória de vida do patinho feio às relações familiares existentes entre os pais e filhos.

Simbolicamente a rejeição que o patinho feio sofre em seu meio social e o tipo de mãe que é apresentada posto que a pata apesar de ter chocado o ovo, rejeita o filhote.

Mais tarde, o patinho feio se revela um cisne quando adulto, e foi capaz de encarar as diferenças e ainda superar a rejeição independentemente do tipo de mãe que o criou, já que a personalidade das mulheres também revelou qual tipo de mãe, a menina no futuro será para seus filhos.

Há diversas  variantes de fábulas e contos de fadas decido ao fato dessas narrativas terem sido registradas por escrito muito tempo depois de seu surgimento e disseminação popular. Ab initio, tais histórias eram contadas oralmente e transmitidas de geração em geração, mesmo quando escritas, já não era possível identificar com precisão a fidedignidade das versões originais.

A História da Literatura registra que a primeira obra voltada para o público infantil fora publicada ao fim do século XVII, por Charles Perrault. “Os Contos da Mamãe Gansa” reuniu oito histórias recolhidas diretamente da memória popular “A Bela Adormecida no Bosque”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Barba Azul”, “O Gato de Botas”, “As  Fadas, Cinderela” ou “A Gata Borralheira”, “Henrique do Topete” e “O Pequeno Polegar”[2].

Na mesma  época, La Fontaine[3], também na França dedica-se ao resgate de antigas histórias populares: as  fábulas.  E, também buscou fontes documentais na Antiguidade, na cultura  grega (Esopo), romana (Fedro), nas parábolas bíblicas, coletâneas orientais e narrativas  medievais e renascentistas.

Há fontes documentais na Antiguidade Clássica, na cultura grega como Esopo e, na romana com Fedro, nas parábolas bíblicas, coletâneas orientais e narrativas medievais e renascentistas. E, com La Fontaine foi possível tornar as fábulas populares tais como  “O Lobo e o Cordeiro”, “O Leão e o Rato”, “A Cigarra e a  Formiga”, “A Raposa e as uvas, entre outras”.

Na Alemanha do século XVIII, os Irmãos Grimm – filólogos, folcloristas, estudiosos da  mitologia germânica e dedicados a determinar a autêntica língua alemã – dedicam-se à coleta  das possíveis invariantes da linguística nas antigas narrativas e lendas que ainda circulavam na  tradição oral.

Dessa minuciosa seleção e transcrição, formaram a coletânea  Literatura Clássica Infantil, cujos contos mais conhecidos são: “A Bela Adormecida”, “Branca de  Neve e os Sete Anões”, “Chapeuzinho Vermelho”, “A Gata Borralheira”, “O Ganso de Ouro”,  “Joãozinho e Maria”, etc. O sucesso desses contos, foi determinante para  o surgimento do gênero Literatura Infantil.

Ainda em 1954, o editor italiano Einaudi publicou uma antologia de fábulas italianas que pudesse  ser comparada às coletâneas clássicas de Perrault e dos Irmãos Grimm[4], assim, Ítalo Calvino realizou o trabalho de elaborar as Fábulas Italianas, que resgatou as fábulas em sua versão original.

Sublinhe-se que as variantes dos contos de fadas foi possível existirem devido ao fato da ausência de registro escrito, o que permitiu que quem os (re)contasse, dependendo de sua classe social, mais ou menos favorecida, ou ainda, das circunstâncias sociais e tradições culturais, realizasse algumas alterações no enredo.

Estées (1999) afirma que alguns elementos nas tramas foram purificados em face de questões religiosas e que, por isso, como é o caso dos Irmãos Grimm, substituiu-se a curandeira por uma bruxa perversa, o espírito por um anjo, o véu por um lenço, omitindo também os elementos  sexuais, assim como os animais[5] e criaturas prestimosas que se tornaram demônios do bem ou do mal.

De fato, o ideário cristão se consolidou na era romântica e cedeu à polêmica erguida por alguns intelectuais, contra a crueldade de certos contos, os Grimm, na segunda edição da coletânea, retiraram os episódios dotados de muita violência ou maldade, principalmente, aqueles que eram praticados contra crianças.

A Literatura Infantil clássica teria completado no século XIX, o nascer do romantismo, com os Eventyr, contando com uma coletânea de 168 contos que foram publicados entre 1835 e 1877, do dinamarquês Hans Christian Andersen. Tais contos foram resgatados do folclore nórdico ou até inventados pelo próprio escritor, revelando as injustiças que estão na base da sociedade, e ofereceram caminho para a superação que era a fé religiosa.

A exaltação da sensibilidade, da fé cristã, dos valores populares, dos ideais de solidariedade, fraternidade e de generosidade humana que permite falar para as crianças com a linguagem do coração. Superando a vida tida como "vale de lágrimas" que cada um tem de atravessar para alcançar o céu.

Os diversos valores ideológicos tão consagrados pelo romantismo, preocupou-se com a valorização do indivíduo por suas próprias qualidades e não por seus privilégios ou atributos sociais. Há outros contos de Andersen muito conhecidos como: “O Pinheirinho”, “A Sereiazinha”, “O Soldadinho de  Chumbo”, “Os Sapatinhos Vermelhos”, “A Roupa Nova do Imperador”, em que o escritor sugere  padrões de comportamento a serem adotados pela nova sociedade que naquele momento se  organizava.

Os contos de fadas caracterizam-se por narrativas que marcam a fantasia das crianças,  dividindo os personagens entre o bem e o mal, entre as fadas e as bruxas, entre o belo e o feio.

A imaginação, ativada ao ouvir essas histórias, ajuda a criança a desenvolver seu intelecto e a  tornar mais claras as suas emoções.

São histórias que não têm data e espaço definidos, ou seja,  são atemporais, já que são iniciadas, geralmente, com “Era uma vez...” e, na sequência, se  desenrolam por meio dos personagens para encerrar com um final feliz e/ou com uma “moral  da história”.

Esse recurso estilístico ajuda a prender a atenção da criança à narrativa, que é curta,  mas possui dados suficientes para permitirem uma associação com o mundo real.

Do ponto de vista da psicanálise, segundo Bettelheim, os contos de fada transmitem mensagens ao consciente, à pré-consciência e até ao inconsciente e tratam de problemas humanos universais, particularmente,  os que preocupam o pensamento da criança, pois abordam o ego que desabrocha e encoraja o seu desenvolvimento, e ainda alivia as pressões existentes.

À medida que as histórias  se desenrolam, dão crédito consciente e corpo às pressões do id[6], mostrando  caminhos para satisfazê-las, que estão de acordo com as exigências do ego e  do superego[7].

Com essas histórias infantis exploradas adequadamente, a criança poderá tornar-se um  adulto mais preparado para enfrentar as agruras da vida, como defendem Lajolo e Zilberman  (2007).

Assim, a criança que tem acesso aos contos de fadas e textos do gênero do maravilhoso  aprende a lidar com os futuros problemas existenciais que encontrará na vida adulta, ao mesmo  tempo em que o seu eventual sofrimento é aliviado pelo escape mental que as histórias  permitem criar no imaginário infantil.

Justifica-se que, ao misturar a realidade com a fantasia, a  criança poderá processar melhor a ansiedade e a insegurança a que fica exposta diante das  diferentes personalidades das pessoas com quem convive no seu cotidiano e que, representadas  pelos personagens das narrativas, podem auxiliá-la a dar significado às suas experiências.

É através dos contos de fadas que as crianças armazenam em si as sugestões de possíveis soluções para os problemas da vida adulta, de forma categórica e breve.

Em verdade, o conto de fadas simplifica todas as situações e suas figuras foram esboçadas de forma leve e clara e, se concentra nos fatos importantes e personagens são mais típicos do que únicos, com dualidades explícitas tais como o bem e o mal, o belo[8] e o feio.

Um fator determinante é o inconsciente para que as pessoas consigam enfrentar os problemas existenciais, tanto na fase infantil como na adulta. Bettelheim informa que  o inconsciente é determinante poderoso do comportamento e, quando está reprimido e se nega a entrada de seu conteúdo na consciência.

A mente consciente será parcialmente superada pelos derivativos destes elementos inconscientes, ou então, será forçada a manter um controle de tal forma rígido e compulsivo sobre eles que sua personalidade poderá restar muito mutilada.

No trágico  mundo real, as pessoas são ambivalentes, não são apenas boas ou más tal como nos contos de fada, porém, a criança por não ter  a suficiente maturidade completa, por ser um ser humano em desenvolvimento, tem maior finalidade em se identificar com um dos personagens, e com a constante necessidade de decidir em fazer o certo ou o errado.

E, assim ao ouvir as histórias, recebe as mensagens dos contos  que informam quais dificuldades sejam superadas com imaginação, coragem e obstinação. Assim, as características humanas que podem ser estimuladas para prover a superação de dificuldades reais.

“O Patinho Feio”, de acordo com Corso e Corso (2006), o fato dessa história  ser amplamente conhecida deve-se ao mérito de traduzir muito bem a angústia da criança  pequena.  Evoca outra verdade, pois somos todos adotivos, pois o laço biológico não nos dá as garantias necessárias para se sentir amado e aceito. Por vezes, é possível ter o desagradável sentimento de ser o ovo errado no ninho errado.

A saga do pequeno cisne ou patinho feio começa por ter nascido no ninho errado e, igual a todos nós, busca pela identidade e lutar pelo nosso lugar no mundo. “O Patinho Feio” se diferencia dos demais contos de fadas  tradicionais, pois não luta em prol de um herói que vencendo as provações consegue a resolução de um conflito.

A rigor, “O Patinho Feio” não seria classificado como conto de fadas, pois o conto concretiza a transição entre o conto de fadas e o romance moderno, pois na trama Andersen, a fonte do sofrimento é igualmente interna, pois o patinho luta contra o desamparo e a desesperança. O sofrimento se dará mais em função da tragédia em si e menos no discurso da personagem.

Toda caminhada do Patinho Feio, diferentemente, do percurso das personagens clássicas dos contos de fadas, foi mobilizada em prol do sentimento de rejeição e por sua vontade íntima. 

Originalmente, os contos de fadas, de tradição oral passearam por uma audiência adulta original, constituída por trabalhadores em seu momento de descanso, ou pelos nobres em seus belos salões, quando a narrativa era destinada às crianças e até adolescentes.  Andersen revelou que naquela época as crianças estavam conquistando seu papel e importância na estrutura social. 

O drama se baseou no persistente sentimento de rejeição, uma descrição alegórica da infância difícil, do escritor que era dinamarquês de origem humilde e de aparência bizarra e que sofreu por conta de sua sensibilidade sensível e até considerada afeminado por alguns de seus contemporâneos.

É preciso analisar o contexto social da época em que o conto foi escrito,  que também se revela na narrativa. Histórias reais de crianças que não eram acolhidas pelo amor  dos pais eram frequentes.

Crianças que nasciam com deficiências ou com alguma incapacidade eram estigmatizadas, teriam menos chances de sobreviver e de progredir na vida.  Daí que o  “feio” pode se referir a toda a gama de características que não se encaixam em uma  normalidade, algo que está fora do padrão.

O conto “O Patinho Feio” já se distanciou de seu criador e do contexto sócio-histórico de  sua produção, no entanto, adultos de toda parte seguem contando-o para crianças ávidas por escutá-lo a cada noite. Isso mostra o potencial dessa história, pois, devido à linguagem  simbólica, fala ao nosso inconsciente em pleno século XXI.

A palavra bullying[9] tem sido designada como uma forma de conceituar a perseguição  sistemática que crianças e jovens sofrem no meio ambiente escolar.

Ressalte-se que a recente Lei 14.811/24 que criminalizou o bullying e cyberbullying, que quando um crime é definido como hediondo pela legislação,  a pena a ser cumprida deve, necessariamente, iniciar em regime fechado, além de afastar a possibilidade do pagamento de fiança  ou a aplicação de outros benefícios legais, tais como anistia ou indulto.

A Lei n.º 14.811/2024 também aumenta as penas para o crime de homicídio contra menor de 14 anos (art. 121 do Código Penal). Há a possibilidade de a pena aumentar em dois terços caso o crime tenha sido praticado em ambiente escolar, bem como ser duplicada para  o crime de indução ou instigação ao suicídio (art. 122 do Código Penal) caso o autor seja o líder, coordenador, administrador ou  responsável por grupo/comunidade de rede virtual.

Tal perseguição pode ser  tão séria que, por vezes, é capaz de provocar abalos psicológicos no estudante. Entretanto, as discriminações com as crianças, por vezes, surgem justamente no ambiente em que mais  deveriam se sentir protegidas: na família.

O conto “O Patinho Feio” narra a história de um patinho  que destoa dos demais da ninhada por ser diferente, logo, os irmãos, e até mesmo a mãe,  classificam-no como feio pelo simples fato de sua aparência diferir dos padrões estabelecidos.

O patinho sofre chacotas e é preterido em relação aos demais filhotes devido à sua aparência, e  encontra a felicidade somente no dia em que vê uma mãe cisne passeando pelo lago, descobrindo enfim sua verdadeira família. A narrativa não menciona se o patinho foi à escola,  até mesmo porque a característica dos contos de fadas é ser uma narrativa curta, com um único  tema central.

O tema central de “O  Patinho Feio” é, portanto, a rejeição que o personagem enfrenta por ser considerado feio no seu  meio social.

A história inicia contando  que a mãe pata remanescia chocando um último ovo, muito grande em relação aos demais, o  qual ainda não havia rachado. Ao receber a visita de uma velha pata, esta diz-lhe que aquele ovo era estranho.

Não importa que a mãe que cada um  tenha tido, qual espécie de mãe e a mulher seja, ela pode – se tiver apoio necessário e determinação –  tornar-se uma mãe forte. Se a mãe é forte e tem amparo, “mesmo que a mãe fraqueje, o rebento  pode sobreviver.

É esse o modelo psíquico e a esperança para aquelas que tiveram pouco ou  nenhum cuidado maternos, bem como para as que sofreram cuidados torturantes” (ESTÉS,  1999). Assim, o desafio de cada mulher é descobrir-se um cisne, mesmo sendo criada  no meio de patos e, dessa forma, conseguir desenvolver uma prole forte capaz de enfrentar o  mundo.

A psicanálise, de base freudiana, tem como  eixo a relação do "eu consciente" e do "eu inconsciente", sendo que muitos comportamentos  conscientes são influenciados por forças inconscientes, como memórias, impulsos e desejos  reprimidos. Diferentemente de Estés (1999), Bettelheim (2002) trabalha na perspectiva do  inconsciente individual.

Quando o herói do conto não é filho único, mas sim um entre vários, e quando ele é o  menos competente ou o menos apreciado, embora ao final se sobreponha aos que inicialmente  lhe eram superiores, é quase sempre o terceiro filho.

Mas como toda criança algumas vezes se vê como  o homem inferior da família, no conto de fadas isso é sugerido pelo fato de ela  ser a mais nova ou a mais desconsiderada, ou ambas.

Tanto consciente quanto inconscientemente, os números representam pessoas, situações  familiares e relações: o “um” nos representa em nossa relação com o mundo; o “dois” significa  duas pessoas, um casal.

No inconsciente ou nos sonhos, “um” pode representar, além da própria  pessoa, no caso da mente infantil, o genitor dominante; o “dois” representa normalmente os  pais; e “três”, a criança em relação a seus pais, mas não a seus irmãos. Ou seja, qualquer que  seja a posição da criança dentro do grupo de irmãos, o número “três” se refere a ela própria.

Assim, “quando, numa história de fadas, a criança é a terceira, o ouvinte facilmente se identifica  com ela porque, no interior da constelação familiar mais básica, ela é a terceira,  independentemente de ser a mais velha, a do meio ou a mais nova entre os irmãos”.

O ovo era de peru e que era imprestável, pois perus não podiam entrar no lago. A mãe queixa-se  à amiga de que o pai dos patinhos ainda não tinha ido visitá-la.

Então,  pata, a mãe decide que, já que havia chocado o ovo por tanto tempo, não faria mal chocá-lo um pouco mais. Até o dia em que o filhote nasce e a mãe depara-se com “[...] uma criatura  grande e desajeitada. Sua pele era marcada por veias sinuosas azuis e vermelhas. Seus pés eram  de um roxo claro. Seus olhos de um rosa transparente” (ESTÉS, 1999).

 A mãe não  consegue se conter: acha-o realmente muito feito, mas acalma-se ao constatar que, ao levá-lo  para o lago, ele nada muito bem, tendo então que se conformar de que o patinho era mesmo  seu.

Essa mãe enfrenta os outros patos para que o filhote possa ser aceito[10] pelo grupo, mas  isso não impede que ele seja importunado o tempo todo, sofrendo até agressões físicas, o que o  fazia perder parte das penas.

Ele era o mais infeliz dentre os animais da fazenda. Até que um  dia, a mãe, farta de tudo aquilo, acaba cedendo à pressão social e diz ao patinho que desejaria  que ele fosse embora. O patinho, então, foge. Chega a um pântano e encontra um casebre onde  moram uma velha, uma galinha vesga e um gato.

Como lá também é maltratado pelos outros animais, o patinho somente encontrava alento dentro da água, ficando embaixo dela o máximo de tempo que podia. Até que num dia  de outono vê passarem voando as aves mais lindas que jamais vira. Ficou rodando na água até  conseguir vê-los e, por fim, “mergulhou até o fundo do lago e ali se aninhou, trêmulo”.

Mas o inverno chegou e o patinho  descobriu-se congelado, achando que ia morrer. Os patos selvagens negaram-lhe socorro, pois  ele era muito feio. Foi socorrido por um lavrador, que o levou para casa, mas o patinho acabou  fazendo a maior bagunça ao tentar fugir das crianças que queriam pegá-lo.

Ao subir nos caibros  da casa, fez cair pó dentro na manteiga, e depois caiu dentro do leite, fatos que irritaram a esposa  do lavrador, que o expulsou a vassouradas.

O patinho passou o inverno todo indo de lago em  lago e de casa em casa, alternando seu existir entre a vida e a morte. Ao chegar a primavera, o  patinho percebeu que podia voar com suas asas fortes e, lá de cima, observar as paisagens.

Não  tardou para rever as lindas aves que havia avistado no outono e resolveu aproximar-se, mesmo  achando que seria o seu fim, pois certamente aquelas lindas criaturas bateriam nele e o  escarniariam até que ele morresse. Mas já que estava convencido de que iria morrer, preferia  que o fosse através daquelas lindas aves. Entretanto, no reflexo do lago, descobriu-se igual aos  demais cisnes, que eram as magníficas criaturas que ele tanto admirava.

A explicação que o patinho (agora cisne) encontra é que  o seu ovo deve ter rolado até o ninho da pata, pois ao olhar para a beira do lago vê “mais uma  mãe pata chocando seus ovos junto ao rio” .

Tomando a narrativa escrita por Andersen, trabalha com a ideia de  que o patinho feio nada faz para superar ou mudar sua realidade, já que está predestinado a  crescer e descobrir-se um belo cisne apesar dos gracejos e indiferenças dos irmãos.

De acordo  com Bettelheim (2002), na história O Patinho Feio, “não é expressa nenhuma  necessidade de fazer algo. As coisas simplesmente estão traçadas pelo destino e se desenrolam  de acordo com isso, independentemente de o herói agir ou não [...]”.

Assim, tanto a narrativa recontada e analisada por Estés (1999) quanto o conto analisado por  Bettelheim (2002) apresentam o mesmo desfecho, ou seja, aquele patinho feio e rejeitado era,  na verdade, apenas diferente dos demais, alcançando sua identidade ao descobrir-se um belo  cisne.

Ao final da história, todo o sofrimento é recompensado pelo encontro com a verdadeira  família, ou seja, pela conquista de um lugar na sociedade.

O patinho feio somente torna-se feliz ao encontrar a sua família psíquica, reconhecendo se como cisne: “Descobrir com certeza qual é a sua verdadeira família psíquica proporciona ao  indivíduo a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo.

Os problemas emocionais  se agravam, pois as mães sonham que seus filhos sejam perfeitos e reflitam o seu jeito de ser, o  que não acontece em relação ao patinho feio, que é diferente dos demais da ninhada.

Doravante, ela  terá que enfrentar dois problemas: ser mãe solteira e ter um filhote que não é aceito pelos demais  membros do grupo pelo fato de ser feio.

A criança, muitas vezes, pode sentir-se insignificante perante os pais, negligenciada por  eles. Todavia, é difícil para a criança admitir para si própria o seu desejo de superar os pais, de  ganhar independência. Nos contos de fadas esse desejo é camuflado com a superação dos  irmãos que a desprezaram.

Ao final da história, o patinho feio revela-se um majestoso cisne,  tornando-se superior aos irmãos que o maltrataram.

O patinho feio terá uma vida adulta plena, pois apesar de  sofrer com a rejeição, ao crescer, descobre a sua verdadeira identidade, sua família de alma,  tendo um final feliz, o que pode auxiliar a criança que enfrenta bullying a criar um espaço imaginário capaz de fazê-la suportar aquela situação, acreditando que um dia ela será superior  a tudo aquilo e encontrará o seu lugar na sociedade.

Já na apresentação de Estés (1999), o  patinho precisa passar por uma longa trajetória cheia de rejeição e desamor.

No conto “O Patinho Feio”, o personagem não encontra na família o amor e acolhimento.  Ele precisa compreender o significado do feio, que na verdade é o ser diferente; o patinho feio é rejeitado e só encontra a verdadeira sensação de pertencimento quando é apoiado por uma mãe forte, a qual  conhece o seu papel feminino e o exerce de forma plena, pois a mãe forte consegue fazer com  que a criança seja um adulto forte, independentemente da mãe que ela própria teve.

A mulher pode buscar a  autossuperação, independentemente do perfil de quem a tenha criado ou, ainda,  independentemente de que mãe ela, inicialmente, tenha sido. Já para Bettelheim (2002), pela  análise psicanalítica, o patinho feio representa o terceiro, na relação entre pais e filhos e entre  irmãos.

Pode ser o filho que nasce de um casal, ou mesmo o terceiro, que representa o irmão  mais novo, mas também pode representar a aparente rejeição que normalmente acontece em  relação ao filho mais velho quando um casal tem um novo bebê e as atenções se voltam ao irmão mais novo.

Através de textos curtos e com trama centrada em valores humanos específicos,  trabalham de forma inconsciente os sentimentos, a insegurança e o medo, preparando-as para  serem adultos mais plenos e felizes.

Em síntese, como afirma Coelho (2012), os contos de fadas  fazem parte desses livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração,  são redescobertos e voltam a encantar pessoas de todas as idades.

A literatura infantil tem grande força ideológica no interior do processo de socialização da criança, e para manter a sociedade capitalista funcionando a partir da produção constante de sujeitos que tenham suas interpretações como únicas possíveis e imutáveis. Irremediáveis. Na busca da estabilização, o discurso da literatura infantil também responde ao universo de produção que traz em si mesma, a representação da realidade, preparando a criança para o amadurecimento e a sobrevivência.

 

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[1] No mundo cristão segundo Santo Agostinho, tudo é considerado belo porque é obra de Deus, o Feio e o Mal continuam a não existir porque são destituições de valor, diminuição do Bem e do Belo, até a não-existência. Na Idade Média, a feiúra em conceito estava relacionada à falência moral, o feio estético também era o feio moral. Desta época, remontam as representações das belas princesas virtuosas dos contos de fadas e das terríveis feiticeiras. Foi a partir do movimento literário romântico, portanto, que os monstros começaram a ter boa alma. Eis que temos O Patinho Feio, o Quasímodo, O homem que ri, Frankenstein, Rigoletto e Quebra-nozes.

[2] O Pequeno Polegar / Portugal: O Polegarzinho é um antigo conto de fadas europeu, e ninguém sabe quem o contou pela primeira vez. Foi recontado pelo escritor francês Charles Perrault. É possível que O Pequeno Polegar tenha sido inspirado na história hebraica do pastor Davi, que depois virou rei dos hebreus. Segundo a Bíblia, Davi era o filho caçula dentre os sete pastores hebreus e o ogro pode referir-se ao Rei Saul de Israel, para quem Davi trabalhou antes de tornar-se rei.

 

[3] Jean de La Fontaine (1621-1695) foi poeta e fabulista francês. Autor das fábulas, "A Lebre e a Tartaruga", o "Lobo e o Cordeiro", entre outras. Jean de La Fontaine nasceu em 8 de julho de 1621. Era filho de um inspetor de águas e florestas, e nasceu na pequena cidade de Chateau-Thierry. Estudou teologia e direito em Paris, mas seu maior interesse sempre foi a literatura. Por desejo do pai, casou-se em 1647 com Marie Héricart, na época com apenas 14 anos. Embora o casamento nunca tenha sido feliz, o casal teve um filho, Charles. Em 1652 La Fontaine assumiu o cargo de seu pai como inspetor de águas, mas alguns anos depois colocou-se a serviço do ministro das finanças Nicolas Fouquet, mecenas de vários artistas, a quem dedicou uma coletânea de poemas.

[4] Irmãos Grimm foram dois irmãos alemães que entraram para a história como folcloristas e também por suas coletâneas de contos infantis. Jacob Ludwing Carl Grimm (1785-1863) nasceu em Hanau, no Grão-ducado de Hesse, na Alemanha, no dia 14 de janeiro de 1785, e Wilhelm Carl Grimm (1786-1859) também nasceu em Hanau, no dia 24 de fevereiro de 1786. Os irmãos reivindicaram a origem alemã para histórias conhecidas também em outros países europeus – como Chapeuzinho Vermelho, registrada pelo francês Charles Perrault bem antes do século XVII. Os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, nascidos no final do século XVIII na cidade de Hanau, Alemanha, se dedicaram aos estudos de história e linguística, recolhendo diretamente da memória popular as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas pela tradição oral. Em 1812, foi editada a sua primeira coletânea de histórias recolhidas, Contos Domésticos e Infantis (Kinder und Hausmärchen), com tiragem de 900 exemplares. Em 1815, os irmãos Grimm produzem o segundo volume dos Contos. No final de 1812, os irmãos apresentaram 86 contos coletados da tradição oral da região alemã do Hesse em um volume intitulado “Kinder-und Hausmärchen”, Contos de Fadas para o Lar e as Crianças. Em 1815 lançaram o segundo volume, Lendas Alemãs, no qual reuniram mais de setenta contos. Em 1840 os irmãos mudaram-se para Berlim onde iniciaram seu trabalho mais ambicioso: Dicionário Alemão. A obra, cujo primeiro fascículo apareceu em 1852, mas não pode ser terminada por eles. Os Irmãos Grimm faleceram em Berlim, Alemanha, Wilhelm no dia 16 de dezembro de 1859 e Jacob no dia 20 de setembro de 1863.

[5] A feiúra como representação da dessemelhança permite compreender que, ans formações discursivas, os sujeitos se reconhecem entre si pelos sentidos produzidos, na formação do consenso. Os animais do galinheiro, reconhecendo-se uns aos outros como belos, veem o patinho, que é um cisne, como um estranho, sendo logo, feio. Os ataques ao patinho são justificados porque ele é feio, precisa sofrer e denuncia a exclusão do diferente. Ser diferente é anormal, e deve ser punido. O etnocentrismo pretende saber o que é melhor para o sujeito e, pode assim, afirmar e apontar qual o lugar que deve ocupar.

[6] O Id é a fonte de nossa energia psíquica, e representa a nossa libido. O Ego é desenvolvido a partir do nosso Id e tem o intuito de tornar nossos impulsos efetivos, como se fosse nosso princípio de realidade. O Superego é a parte moral da mente humana e age de acordo com os valores da sociedade em que vivemos. Id: esse elemento é um componente nato do ser humano, ou seja, nós nascemos com o Id, que representa o elemento psicológico da nossa mente. Por ser algo nato da nossa mente, o Id representa nosso inconsciente e é guiado pela libido (desejo) e não tem os filtros sociais. Ou seja, nessa instância, os indivíduos são levados por suas vontades e impulsos mais primitivos porque tudo o que lhe interessa é a ação e a satisfação. Na estrutura do Id não há espaço para lidar com as frustações, mas é dela que se desenvolvem o ego e o superego.

[7] Superego: esse componente é a junção do inconsciente com o consciente. Ele se desenvolve a partir do ego ainda na infância. O superego é a estrutural social da nossa psique e atua como instância reguladora, pois representa os valores morais, culturais e os ideias de cada indivíduo. Ou seja, o superego é um tipo de conselheiro dentro da nossa mente e ativa nossa culpa, nosso medo e autocensura. A noção do que é certo ou errado, do que é ético e moral perante a sociedade está presente na instância do Superego.

[8] A beleza é fruto da experiência e educação que recebemos. Essa emoção que surge na apreciação da beleza é a que se expressa no prazer. Não no prazer básico, aquele que sustenta a sobrevivência do indivíduo, como são aqueles que obtemos com a comida, a bebida e a sexualidade ou o sono, quando nos privamos dele. O prazer relacionado com a beleza não o mesmo prazer do desejo e do orgasmo, que consumados, nos empurram para nos mantermos vivos. 

[9]  O Bullying é uma ação de violência repetida que ocorre em ambiente escolar, praticada por um agressor (Bullie) ou um grupo deles, com intenção de causar mal a uma ou mais vítimas. O Cyberbullying é uma forma virtual do Bullying que se caracteriza por usar a internet, em mídias sociais, para a agressão. Cyberbullying é a prática de bullying por meio de ambientes virtuais, como redes sociais e aplicativos de mensagem. O bullying consiste em perseguição, humilhação, intimidação, agressão e difamação sistemática. Quando esses problemas saem da esfera da convivência física e passam para a esfera da convivência virtual, temos o cyberbullying, comum, nos dias de hoje, entre os jovens por conta da popularização do acesso à internet e do uso massivo das redes sociais.

[10] A analisar algumas questões acerca da história dessa  personagem, focando principalmente no seu desfecho: a pseudo-aceitação, ou,  quando muito, uma aceitação problemática, uma vez que ocorre unicamente entre  semelhantes. A aceitação é o resultado de uma valorização positiva no campo perceptual  das distinções em relação ao outro. A aceitação no desfecho do conto ocorreu

pelos cisnes, ou seja, por animais iguais ao “patinho feio”, não por outros que eram  diferentes dele e o rejeitaram. As formas de intolerância experienciadas pela  personagem não foram transformadas. O patinho feio foi aceito apenas quando  encontrou seus iguais. Assim, a mensagem de aceitação no final da história remete  a outra mensagem: “eu não posso ser diferente, tenho que ser igual aos outros  para, então, ser aceito”. Essa mensagem, somada a tantas outras que circulam na  sociedade, revelando a intolerância aos diferentes – compreendidos aqui como  pertencentes a grupos sociais histórica e socialmente marginalizados (com base  em questões de etnia, gênero, sexualidade, posição econômica, características  físicas e/ou deficiências) – atua como um sistema de controle redundante de  mensagem; neste caso, de discriminação e preconceito, na internalização de  reconstruções de valores, crenças, mitos e formas de intolerância que ocorrem nos  processos de construção de significados pessoais.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/08/2024
Código do texto: T8131453
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