O VELHINHO CHORANDO
Eu vi um velhinho chorando todas as dores, e o meu coração parou ao perceber tanta tristeza sob um sol inclemente que nunca esfriava. E a vida de repente perdeu o sentido pois o lamento daquele velhinho era o grito dos desvalidos, de quantos não tem mais ninguém e só recebem desprezo. Mas a brisa que fornecia o oxigênio aos demais que passavam era o sopro que nunca parava de tão indiferente.
Deparando essas coisas me vi a refletir, diante de tudo também fui chorar, então o meu pranto pesado e franco ecoou ao redor da multidão que indiferente passava. Ali o pobre velhinho persistia derramando lágrimas, o povo corria sem se importar até mesmo com os meus sentimentos de tanto pesar. Por isso eu gritei um brado tamanho, de alerta angustiante, se não alguém, eu daria meus ombros para o repouso daquela alva cabeça amargurada pelas feridas da vida.
À medida que o velhinho ofegava adiante, os olhos molhavam-me o rosto descendo nas faces, e a alma, essa alma doída se desesperava, mas não somente a alma, também a mente, o espírito, o corpo trêmulo e espamódico. Por que esse mar de tristes dores, por que o velhinho chorava e continuava pranteando os horrores sob meu olhar embaçado? Talvez o imenso vazio da existência, ou presumo que o grave fardo do tempo tenha cobrado seu tributo. Preço amargo que todos nós um dia pagaremos. Chora velhinho, suas dores hoje serão as nossas amanhã.