MENSTRUAAADA

A educação sexual na escola não era proibida nos idos anos de 1988. Educação sexual na escola era impensável, salvo quando um professor (a), às vezes para preencher o tempo antes do fim da aula, ousava responder algumas perguntinhas salientes de alunos (as), alucinados com a possibilidade de ”falar de sexo”, em plena sala de aula.

Em casa, no meu caso inclusive, a Nega minha mãe nem deixaria que um moleque menino-macho, sequer terminasse de lhe arguir sobre questões acerca “das partes” do corpo feminino... Um tabefe, podia perfeitamente surgir de forma inesperada diante de tamanho atrevimento afrontoso.

Assim, lembro-me como se fosse agora... ainda faltava meia hora para bater o sinal da liberdade, naquela sala escaldante do turno da tarde, no então Colégio Prof. Luís Felipe. O desejo de ganhar a rua no rumo de casa, já gritava na agonia que se repetia dia à dia.

O suor do recreio ainda escorria do rosto da turma da 3a Série (B), quando a colega Virgínia, a CDF mais puxa-saco da sala, levantou-se de sua cadeira e lentamente foi ter em segredo com a professora. E para estarrecimento da turma toda e para minha revolta em específico, após um rápido cochicho ao pé do ouvido, aquela cabuete, dedo-duro, X-9 , ganhara direito exclusivo de ir antes de todos para casa...

- Por quê? Na hora, a tamanha indignação, não me d

permitiu dizer nada...

Preciosos, valiosíssimos minutos depois, soou finalmente o tão aguardado sinal para ir pra casa. Ufa! Já na rua, com o vento fresco da liberdade batendo no rosto, ainda se podia ver a tal colega Virginia, adiante andando devagar, segurando a bolsa por trás ll, ogo abaixo do bumbum...

– Lai-se vai a menstruada. – Alguém teria dito isso no meio do rebuliço da saída do colégio.

Possuído pela raiva, acreditei prontamente que aquele termo novo para mim, se tratava de algum xingamento até então, desconhecido pela minha pessoa.

– Pois não é uma injustiça isso? – Retruquei como fosse eu a pessoa mais justa de todo daquela multidão.

– Só porque ela é puxa-saco da professora? Não! Isso não tá certo não! Nos não somos todos iguais? Então temos que ter o mesmo direito! – De repente, me sentia como um arauto, um implacável paladino da justiça...

E sem mais nenhuma dúvida de que eu estava certo, comecei a protestar em alta voz:

- Menstruada! Ei, menstruada! Menstruaaada! – Depois ritmando – Mens-tru-a-da, mens-tru-a-da, mens-tru-a-da!

Depois de um quarteirão e meio de protestos, percebi que não só não havia adesão participativa, como havia na verdade, um tremendo climão de constrangimento geral, por mim criado.

- Puts! O que foi que eu fiz agora? - Pensei, já também envergonhado.

Foi então que outro dos piores encapetados do colégio me abordou, tentando ser discreto:

- Ei cara... ei cara, isso ai é uma coisa "tipo normal" ai das muié...

- Aaah! Tááá...