QUE PENA

Francisco de Paula Melo Aguiar

Que pena, você não conhece nem você mesmo, quanto mais os outros.

Esta cidade é interdisciplinar para não dizer multidisciplinar e pluridisciplinar.

Você pode conhecer o que está escrito nas senzalas digitais de cada partido político que o tempo trás e o tempo leva, depois do desfile cívico das urnas.

Você não conhece o sangue e o suor derramado, ruas acima e ruas abaixo, rumo às fábricas e ao massapê da várzea do Rio Paraíba desde o início da colonização e exploração do estado de igual nome.

Aqui é porta de entrada e de saída de quem vem e de quem vai da capital para o sertão e vice-versa.

Você não conheceu e não conhece os guetos de nossa historicidade, apenas estás lendo o que já copiaram de quem escreveu primeiro.

Você não sabe que essa gente é a mesma gente que em 1627 ficava já "arranhando as costas do Brasil", segundo Frei Vicente do Salvador (1564-1635), algo análogo a caranguejo nos mangues e ou a ɓeira mar, quando deveria ir para o interior do Brasil para explorar às riquezas do sertão, por exemplo, a turmalina Paraíba, etc.

Faz tempo que nossa gente opta em nascer, viver e morrer perto do mangue e/ou na beira-mar, claro como caranguejo na senzala digital dos nossos dias.

Esta gente sabe e se não sabe deveria saber que o explorador, historiador, escritor e cristão novo, Ambrósio Fernandes Brandão (1555-1618), aqui viveu na várzea do rio Paraíba no atual município de Santa Rita entre os séculos XVI e XVII, se escondendo da perseguição da Santa Inquisição da Igreja Católica, aqui ele foi senhor do Engenho Inhobim ou Iobim, aqui em Santa Rita, local onde ele escreveu e deixou a obra célebre: Diálogos das Riquezas do Brasil, cuja comprovação da autoria de Brandão e dos aspectos humanistas e científicos da referida obra se deve ao escritor e historiador cearense João Capristano Honório de Abreu (1853-1927).

Que pena que o Engenho Inhobim de Ambrósio Fernandes Brandão, que também posteriormente foi chamado de Cosme e Damião, lá tinha a capela com estes santos, que o tempo levou da várzea santaritense, passaram a borracha e apagaram tudo, diante do farfalhar do canavial do nosso ouro verde antes de ser transformado em ouro branco e álcool, combustível atualmente usado para fazer o que é automotivo funcionar para transportar nossa gente para os sonhos nunca sonhados.

Que pena, nossa gente é conformista e aparece e reaparece em tudo quando quer, uma espécie do tema do romance: Admirável Mundo Novo, do escritor inglês Aldous Helex (1984-1963), se adaptam rapidamente as regras dominantes, sabem assim viver à beira-mar, no mangue sem ser caranguejo e no interior se quiser, tendo em vista que a realidade individual é uma construção permitida ou não permitida.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 17/08/2024
Reeditado em 17/08/2024
Código do texto: T8130761
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.