O CANDIDATO FARSANTE
Devia ter em torno de 40 anos. Bem apessoado, adorava participar de processos seletivos fingindo ser o que não era. Quando via um anúncio de jornal anunciando, por exemplo, a vaga para engenheiro civil, pesquisava exaustivamente na internet para montar um currículo bem rico e irresistível. Então mergulhava naquela área, passando inclusive noites em claro atrás de todas informações possíveis. Em poucos dias ficava craque no assunto, a ponto de dar verdadeiro show nas entrevistas e indo sempre para a etapa final nos processos seletivos, fazendo uso, inclusive, da fluência escrita e verbal em vários idiomas. Então sumia do mapa, para desespero do RH que jurava ter encontrado a pessoa ideal. Já agiu assim se candidatando para médico cirurgião, encanador, piloto de avião, pedreiro, chefe de cozinha, professor de balé, pastor de igreja, segurança, advogado tributarista, diretor de indústria química, professor de ioga, estivador, gerente de pet shop e atendente de idoso. Pode-se até pensar que tivesse alguma patologia mental ou desvio de personalidade que o fizesse encarnar tantos personagens diferentes, enganando com maestria os entrevistadores e possíveis futuros patrões. Nada disso. Era um ator perfeito com inteligência bem acima da média e hábil gozador, se divertindo em manter aquelas farsas até quando bem quisesse. E assim foi tocando a vida, vivendo com a herança recebida do avô que não o obrigava a suar para ganhar o pão de cada dia, como os outros mortais