OS SOBRENOMES
OS SOBRENOMES
Nelson Marzullo Tangerini
O piracicabano Nestor Tangerini, apesar de assinar como um Tambourindeguy, num soneto, que dedicou à sogra, Antônia de Oliveira Soares Marzullo, para conseguir um verso decassílabo, quando se casou com a atriz Dinah Marzullo, retirou, no cartório, seu primeiro sobrenome, sobrenome de sua mãe, Domingas Tambourindeguy, pois trazia na alma e no coração uma decepção com a família de Domingas.
“À ANTÔNIA MARZULLO
.
Boa amiga Marzullo, meus saudares,
conforme já lhe disse, certo dia,
a minha pena é a pena mais vazia
em matéria de cartas familiares.
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Mas, como prometi lhe escreveria,
quando de cá se foi para outros ares,
eis que hoje cumpro, em linhas chãs, vulgares,
a promessa que há muito lhe devia.
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Aqui vão todos bem: eu, a Bolinha,
etc., e o Maurício, sempre afoito,
correndo para a casa da Netinha.
.
Sem mais, com mil abraços, ponho um “fine”.
Rio, sete de abril de trinta e oito.
Nestor Tambourindeguy Tangerini”. (*)
Tangerini não pôs o sobrenome Marzullo em seus filhos Nirton, Nirson e Nelson, por haver brigado com seu sogro, o italiano Emílio Marzullo, que, por fim, separou-se de Antônia, que não deixou de usar o sobrenome de seu primeiro marido, como veremos.
Antônia, que antes de ser atriz, trabalhou numa camisaria e como enfermeira, era filha do português Manuel Gomes Soares e da afrodescendente Rufina de Oliveira.
No início de minha vida literária, publiquei meus livros “Paulicea (Ainda) Desvairada”, “Cidadão do Mundo” e “Nestor Tangerini e o Café Paris” (1ª versão) com o nome Nelson Tangerini, como consta no meu registro de nascimento.
Mas consta, nesse mesmo registro, que sou neto de Domingas Tambourindeguy Tangerini, minha avó paterna, e de Emílio Marzullo, meu avô materno.
Passei a escrever, então, com o pseudônimo Nelson Marzullo Tangerini para homenagear os Marzullos de minha família materna: Maurício, meu tio, Dinah, minha mãe, e Dinorah, minha tia. Foi uma forma de não ser uma ovelha desgarrada da família, repleta de artistas, e lembrar algumas pessoas que tenho sangue Marzullo.
Emílio faleceu em 1954. Em 1956, Antônia, depois de estar vivendo com o português José Pinto da Costa, primo do ator Jaime Costa, com ele se casa. Bibi Ferreira, filha do ator Procópio Ferreira, foi madrinha deste casamento. Mas ela continuaria usando o sobrenome Marzullo, até o fim da vida. Sim, homenageio, também, a minha avó materna, uma mulher independente para sua época.
E homenageio, também, Verônica Marzullo de Brito, poeta, com quem sou casado.
...
(*) O soneto acima foi escrito em 1938, este soneto foi publicado
no jornal AAC Informativo – Informativo da Associação Nacional
dos Aposentados dos Correios, Ano IV – no. 14, p. 3,
Brasília, DF, dezembro de 1997,
e lido por Nelson Tangerini no programa ONDE CANTA O SABIÁ,
do jornalista Jerdal dos Santos,
Rádio Nacional AM, Rio de Janeiro, RJ, domingo, 3/10/1999.
Participou do mesmo programa o professor e poeta Nilo Sérgio.