Entre o belo e o essencial

Mais um dia de trabalho e eu diante da tela do computador, encarando aquele dilema que se repetia dia após dia. Em um mundo saturado de imagens vibrantes e fontes elegantes, eu me via na contramão, navegando por um mar de limitações que, para muitos, eram invisíveis. Produzir materiais para pessoas com baixa visão não era apenas um trabalho; era um exercício diário de empatia e compromisso com o que realmente importava.

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A cada nova página, um desafio se apresentava. A cor que parecia perfeita para destacar uma informação crucial, de repente, tornava-se um obstáculo, ofuscando aquilo que deveria ser evidente. A fonte, que fluía com graça e leveza, revelava-se um labirinto de formas para aqueles que não podiam contar com a clareza plena da visão. E ali estava eu, dançando nessa corda bamba, buscando um equilíbrio entre a estética e a acessibilidade.

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Havia dias em que o desejo de criar algo bonito, de encantar os olhos e tocar os sentidos, entrava em conflito direto com a necessidade de ser prático, de ser útil. Não era raro sentir que, ao eliminar uma imagem deslumbrante ou uma fonte artisticamente complexa, eu estava apagando um pouco da minha própria expressão. Mas então, a realidade me puxava de volta: de que adianta a beleza, se ela não pode ser apreciada por quem mais precisa da informação?

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Esse meio-termo, esse espaço onde o estético encontra o essencial, era onde eu tinha que operar. Não era sobre fazer concessões, mas sobre redefinir o que significa beleza. A harmonia das cores agora residia na capacidade de contrastar de forma clara, para que cada letra, cada símbolo, pudesse ser distinguido. A elegância das fontes agora estava em sua simplicidade, em sua legibilidade. Era um novo tipo de estética, uma que se alinhava com a função, que respeitava a diversidade das percepções.

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Com o tempo, aprendi a ver a beleza de outro jeito. Ela não estava apenas no que os olhos percebiam, mas também no que o coração compreendia. O brilho de um material bem-feito não vinha das cores que saltavam da página, mas da tranquilidade de quem o usava, sabendo que ali, em cada detalhe, havia um cuidado, uma atenção.

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E assim, entre uma decisão e outra, entre um ajuste e uma escolha, fui percebendo que o verdadeiro desafio não era criar algo bonito ou acessível, mas, sim, descobrir que, na simplicidade, havia uma nova forma de beleza. Uma beleza que não excluía, mas que abraçava a todos. Uma beleza que, em sua essência, era a mais inclusiva de todas.

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No final do dia, ao encerrar o expediente, eu sabia que talvez o caminho fosse longo e cheio de incertezas. Mas também sabia que, a cada passo dado nesse equilíbrio delicado, eu estava ajudando a construir um mundo onde todos pudessem, de fato, enxergar a beleza que existe em cada pequena coisa.

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MMXXIV

Wanderlei Motta
Enviado por Wanderlei Motta em 16/08/2024
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