Crenças e superstições do sul brasileiro

Crenças e superstições do sul brasileiro

Quando escrevi a crônica “Benzedeiras de trovoada” um leitor me alertou que não somente em Antônio Prado elas eram conhecidas. Fiquei curioso e pesquisei onde mais haveria tais benzedeiras para que as moças não ficassem para titias, solteironas, coroas, encalhadas. Não encontrei. Como essa pessoa que me chamou atenção é paranaense de Laranjeiras do Sul, resolvi escrever sobre as crendices e superstições desse belo estado do Sul do Brasil.

Farei comparações de crendices paranaenses com as catarinenses e veremos que no Sul os causos que contamos foram trazidos por nossos ancestrais e servem para longos papos em família.

No Paraná quando a araucária “canta”, por conta da brisa da madrugada, dizem que é sinal de um futuro casamento na vizinhança.

Se um cachorro uiva, terá mau agouro em família.

Dá medo, mas quando o gado chora no matadouro: morte do dono. Deus me livre, misericórdia.

Paranaense que se preze, não planta cajueiro na frente da casa. Ele tem conhecimento de que se mudará antes de ele dar frutos.

Ele reza dia e noite para nenhuma coruja piar no telhado, ou na cumeeira da casa, pois se isso acontecer é sinal de que morrerá em seguida. Ou então alguma mulher morrerá de parto.

Os fazendeiros dos Campos Gerais do Paraná, ou Região dos Campos Gerais, região localizada no centro-leste do estado, se reuniram para escolher a sede da povoação. Cada qual puxava a sardinha para a sua brasa, ou seria o tucunaré, de preferência que sua fazenda fosse agraciada com a sede. Soltaram dois pombos brancos com fitas vermelhas amarradas nas perninhas. Eles pousaram sobre uma cruz, próxima de uma enorme figueira, na mais alta colina, junto ao caminho dos tropeiros Foi erguida então uma capela em homenagem à Sant’Ana. Ao redor formou-se a povoação de Ponta Grossa.

Mais bonita que essa história, somente a da lenda da gralha azul. Uma gralha cinzenta com algumas penas pretas, sem beleza nenhuma, acordou de madrugada com o barulho de um machado. O lenhador derrubava um pinheiro e a gralha voou para o mais alto possível. Provavelmente rolaram algumas lágrimas de seus olhos. Uma voz que chegou ao seu ouvido trazia a seguinte mensagem: “Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias”. As pancadas soavam cada vez mais alto e a gralha assustada com a voz que ouvira e com as batidas derrubando a árvore fizeram com que ela voasse para cima o máximo que conseguiu. Escutou então a fala que lhe dizia: “Volte avezinha bondosa, vai novamente para os pinheirais. De hoje em diante eu a vestirei de azul da cor deste céu, e ao voltar ao Paraná, você vai ser minha ajudante, plantará os pinheirais”.

Já em Santa Catarina, o povo tem mania de colocar um pano sobre o espelho para não atrair raios, não usa o chuveiro, desliga a TV, além de fechar toda a casa. Vai ter medo assim de descargas elétricas noutro lugar, ô istepô.

A cultura popular dos catarinas, diz que não é bom comer melancia e uva juntas, porque “empedra” o estômago.

A mulher quando está menstruada não pode lavar a cabeça, comer banana crua e nem melancia, porque dá hemorragia.

Voltando ao caso da benzedeira de trovoada ou de tormenta contarei um causo que se passou no Saco dos Limões, bairro da Ilha de Santa Catarina. Essa ilha é conhecida por ser terra onde existiam algumas bruxas.

Uma senhora tinha três filhas. A do meio não dormia antes da meia-noite. Ela queria ficar na janela. E não tinha nem um ano de idade! Perto da casa dessa senhora vivia outra que, todo mundo dizia, era bruxa. A mãe então levou a filha numa benzedeira. A curandeira ensinou a amarrar um raminho de alecrim, um de arruda e um de guiné e colocar embaixo do travesseiro da criança. Depois de quinze dias a bruxa morreu. Acredite, se quiser.

Provavelmente a senhora morreu de causas naturais, mas como diz o ilhéu, morreu de velha. A menina cresceu forte e saudável, hoje é uma bela menina e dorme muito bem todas as noites, graças a Deus.

Esses são alguns causos que se ouvem no estado que possui a maior quantidade de parques nacionais e o outro que tem o manezinho Gustavo Kuerten (Guga) como ídolo máximo no Brasil do tênis.

E assim segue a vida, com crenças, superstições inundando noites de bate-papo alegre e descontraído.

Aroldo Arão de Medeiros

09/08/2024

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 16/08/2024
Código do texto: T8129984
Classificação de conteúdo: seguro