Título: "O Desafio de Industrializar a Riqueza do Agro: Um Caminho para o Futuro do Brasil[1]

 

Assisti um PodCast onde o consultor Ronald Trecenti entrevistou o digníssimo Professor Doutor Rui Caldas. Durante o evento Dr. Rui levanta o fato de que o Brasil apesar de ser um gigante no agro, ainda enfrenta o desafio de transformar essa riqueza em uma base industrial sólida. Concordo plenamente e digo mais, a agricultura brasileira, tão robusta e produtiva, primeiro lugar na exportação de vários produtos, ainda, permanece em grande parte ancorada na exportação de commodities, enquanto a verdadeira prosperidade escapa pela falta de uma industrialização robusta.

 

Reforçando o ponto do professor, o artigo de PIEGAS et al. (2024) no Insper Agro Global destaca que, embora a produção e exportação de commodities seja crucial para a economia brasileira e competitiva globalmente, o país deveria focar na adição de valor e diferenciação de seus produtos para ampliar sua participação no mercado internacional.

 

Como especialista em Planejamento Agrícola argumento a necessidade do Executivo liderar o esforço de aumento da industrialização no agronegócio com a criação de um Plano Nacional de Agroindustrialização, que não fique apenas no papel, mas que se materialize em ações concretas. Isso inclui investimentos em infraestrutura, inovação e, sobretudo, na capacitação da mão de obra rural e urbana, alinhando o campo à indústria com políticas de incentivo à transformação da matéria-prima.

 

Quanto ao Legislativo afirmo a necessidade de exercer um papel crucial: na reforma do sistema tributário, eliminando as barreiras que tornam a industrialização um fardo, e propondo leis que incentivem a inovação tecnológica e a sustentabilidade no setor agroindustrial. Um exemplo seria a criação de Zonas de Agroindustrialização, com benefícios fiscais para quem investe em agregar valor à produção agrícola.

 

As Zonas de Agroindustrialização seriam áreas estrategicamente localizadas com infraestrutura avançada e incentivos fiscais, destinadas a atrair indústrias para agregar valor aos produtos agrícolas. Funcionariam como polos de desenvolvimento, onde a produção agropecuária é transformada em produtos industrializados, como alimentos processados, biocombustíveis e fibras têxteis. Arrisco dizer que as localizações ideais incluiriam regiões produtoras de commodities (Centro-Oeste e Sul), áreas próximas a portos (Nordeste e Sudeste), e regiões com potencial de desenvolvimento (Norte e Nordeste), promovendo a industrialização, desenvolvimento regional equilibrado, redução de desigualdades e criação de empregos.

 

É provável que alguns estejam perguntando porque não concentrar apenas nas regiões produtoras de commodities e nas regiões próximas a portos? Porque criar ZAgs em regiões com potencial de desenvolvimento? Pois bem, pelo fato de que nessas regiões existem grandes potencialidades ainda subexploradas.

 

No Norte, há vastas áreas de terras férteis e recursos naturais abundantes, além de uma biodiversidade única, que pode ser utilizada para desenvolver produtos agroindustriais de alto valor agregado, como biocosméticos, alimentos processados a partir de frutas nativas e fitoterápicos. Investir em infraestrutura e tecnologia nessas regiões pode transformar esses recursos em produtos exportáveis, promovendo o desenvolvimento local e nacional. No Nordeste, o potencial de desenvolvimento agroindustrial é igualmente significativo. A região possui um histórico de produção agrícola diversificada, incluindo cana-de-açúcar, frutas tropicais e algodão, que podem ser processados localmente para agregar valor. Além disso, a proximidade com portos facilita a exportação desses produtos industrializados, potencializando o impacto econômico regional e gerando empregos em áreas historicamente menos desenvolvidas.

 

A combinação dessas ações estratégicas criará um ambiente favorável para que o Brasil não seja apenas o celeiro do mundo, mas também um líder global na exportação de produtos industrializados de alto valor agregado. Esse é o caminho para uma economia forte, diversificada e capaz de proporcionar prosperidade para toda a população.

 

Ao final, cabe ao Executivo e ao Legislativo não apenas planejar, mas também executar com a coragem e a visão necessárias para transformar o potencial agrícola em um pilar de industrialização, que traga desenvolvimento sustentável e inclusivo para o país.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agricola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Doutor em Agronomia (USP/ESALQ)