TROCANDO UMA VIDA POR 70 MIL NAIRAS

Descobriu-se em Uruah, Nigéria, um orfanato ilegal no qual o seu dono, esposa e outro cúmplice aliciavam mulheres para engravidar, com a promessa de pagar 70 mil nairas, equivalentes a 445 dólares, pelos seus bebês assim que nascessem. No oeste africano existe o costume, difundido por várias regiões, de traficar crianças para serem vendidas como escravas, prostitutas ou serem sacrificadas em rituais de magia negra.Imagine uma mãe concebendo o seu filho num momento que poderá até envolver prazer, carinho ou ternura e senti-lo crescer dentro de nove meses na sua barriga, já sabendo que ficará sem o bebê logo após o nascimento. Não sei o quanto aquelas 70 mil nairas significarão na vida da mãe e nem, tampouco, de que forma este hábito está arraigado na cultura local, fazendo parte da rotina de muitas mulheres há muito tempo. Condenar a atitude da protagonista e do seu mentor intelectual é fácil, se analisarmos o fato sob o prisma da nossa sociedade e do critério de certo/errado que norteia os nossos julgamentos. Mas é sempre saudável contextualizar também a situação dentro da ótica nigeriana. Isso nos faz ver que apesar de fazermos parte do mesmo bando, a tal raça humana, somos diametralmente opostos em inúmeras coisas. Enquanto a nossa vizinha espera o seu bebê imaginando a decoração do futuro quarto, avaliando as diversas sugestões de nome passadas pelos familiares e já curtindo as roupinhas bordadas pela futura vovó, do outro lado do planeta existe uma mulher também grávida pensando dia e noite no que fará com as providenciais 70 mil nairas. De uma forma ou de outra, ambas mães deverão estar esperando com ansiedade o nascimento dos bebês que carregam no seu ventre, cada uma a seu modo curtindo antecipadamente o dom divino da procriação e as benesses envolvidas.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 15/08/2024
Código do texto: T8129833
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