Ventilador de teto

Rua das laranjeiras, número 123

Quadros com ilustrações falsas do Bansky

Em uma parede branca com lascas de tinta

Almofadas azuis, frases nas paredes

A luz da cidade iluminando o cômodo pela janela

As persianas dançando com o vento

O gato dormindo no tapete verde

Colocado de forma desajeitada em um piso de madeira artificial

The XX toca e meus dedos batucam no ar sozinhos

Procurando por inspiração…

“Sonhe mais” diz o ímã na geladeira

Meus livros abandonados no canto dos rodapés

O colchão na sala é a maior forma de conforto singular que tenho

Enquanto um filme da década de 70 passa mudo

Na TV minúscula colocada formalmente em cima de um caixote velho.

Minha camiseta fala por mim

There’s a light that never goes out

(…)

O ventilador de teto faz um barulho

Similar ao da clínica dentária do Sr. Jorge.

Enquanto ele gira,

Gira,

Gira…

Imagino o mundo girando

As pessoas se mudando para outros planetas

E só eu ficando na terra,

Sozinha.

Minha franja cortada de forma caseira

No estilo Ramona não-sei-o-quê

Incomodando a minha visão.

Eu me levanto,

Cruzo minhas pernas,

Seguro uma xícara com refrigerante com as duas mãos

Dou um gole

Ao passo que pisco os olhos lentamente

Suspiro,

Largo a xícara,

Pego o violão cheio de marcas do tempo

E começo a dedilhar Pearl Jam

Sorrio de forma lateral,

Afirmando a mudança na minha vida,

Implantando a parte boa da solidão

(…)

Olho as luzes dos postes refletindo nas minhas pupilas

Reparo nas rachaduras do apartamento pequeno

E afirmo a mim mesma em silêncio que estou em paz,

E faço jus a premissa que diz:

Evoluir é mudar.

22.03.2014