Crônica bem maluca

Fraco e desnatado. Nutritivo enquanto poético. Pasteurizado. Homogeneizado. Engarrafado. É preciso notar que, se por um lado é o fraco e desnatado, logo se caracteriza como exceção. Ah! Você está firme feito raquetas. Em eterno lazer itinerante. Digo mais: Segue aqui um exemplar de recente publicação: Título: Confissões de um idiota intrapsíquico.

Sinopse: Ao nascer completamente normal além das muitas horas dedicadas à produção do sono e da alimentação e por paterno histrião impingiu-lhe por sonoro o tal nome de batismo: Idiota.

- Aqui está o meu filho...

O Doutor Aranha olhava a garganta. Aquela vermelhidão de crupe.

- Como se chama o garoto?

- O garoto, ah, é... O meu filho se chama Idiota.

- Então quer dizer que os pontos vermelhos na garganta são cacos de vidro?

Assim desde menino com o nome próprio de Idiota foi sendo aceito. Não sendo idiota e incapaz de comer vidro. Estudou e apalavrou-se. Elevou-se a condição de Senhor Idiota com diploma e festa de formatura. Nobre e querida figura! Ilustre varão! Amigo de Sabugosa, um tal visconde. Famoso desde o começo.

(Em cartaz grande: Série Novas Lendas da Figura Extraordinária do Sr. Idiota versus O Caminho da Verdade – Parte Dois.)

Ele dizia durante o chope:

- Idiota foi sempre o meu nome e herdei, mas não me chame de pateta! Na verdade todos nós o conhecíamos como o conservávamos em nossos corações fruto da mais franca amizade. Era o nosso velho Idio.

Assim ficou até a retirada definitiva do “io” como final apropriado. Não fosse o silêncio para ele a tragédia de Pompeu no Egito lhe pesou o nome como infelicidade. De resto era dono de espetacular senso de humor.

Rascunho das “Confissões de um idiota.” Já então em segunda edição, volume II. – Chamou atenção da crítica especializada. Mote para exploração cômica recheada de reflexões filosóficas. Quanto ao aspecto intrapsíquico? Ora isso corresponde à parte importante da narrativa. Espécie de grito por cima do monturo: esse monturo da precariedade. O pobre Idiota vivendo com amigos geniais em festas. Espetáculos malabares ou ilusões de isolamentos. Em conseqüência a loucura se atenua diante da massa plástica da transição quando desenhamos a vigésima página. Seguimos passando luz para a completa obscuridade porque ninguém é perfeito vinte e quatro horas.

Rabisco o recheio da trama e vou erguendo um pórtico como um perfeito pórtico.