Cada boné tem uma história
Cada boné tem uma história
Revendo álbuns antigos, deparei com uma foto dos meus tempos de infância, onde estamos eu e minhas duas irmãs mais velhas, em duplicidade. Numa delas meu cocuruto está coberto por uma boininha. Se em criança estava usando esse subtipo do boné, por que não usá-la na vida adulta? Registrei um retrato junto a meu pai, cada um com uma boina bem parecida, na teimosa tentativa de ficar tão bonito como ele. Deve ter sido daí que adveio o meu gosto, além de boinas, pelo uso de bonés.
A coleção de bonés faz parte do meu dia a dia. Não possuo uma quantidade exagerada, pelo menos segundo minha avaliação. Tenho exatas 134 peças que uso com frequência. Destas, 22 são de países da Europa, a maioria deles visitei, outros não pude conhecer mas, mesmo de longe, os considero extraordinários. Alguns não são de cidades ou países, mas representam para mim muito mais que qualquer lugar: o do Brasão dos Medeiros, o do Grupo do Panela Futebol Dominó e do Kraftwerk. Tanto desvelo por eles que só me arrisco a usar nos finais de semana.
Devo ter adquirido também com meu pai o gosto por esse apetrecho para cobrir a cabeça que não possui abas. Ele não sai de casa sem esquecer de se proteger do sol ou da chuva.
Outro parente desse acessório que fez parte de minha existência foi o capacete. Fiscalizei a construção de linhas de transmissão durante trinta e cinco anos, sempre escudado dos acidentes de trabalho e das intempéries por essa providencial peça resistente a impactos.
Quando viajei para Londres, a passeio com meu filho, para minimizar o frio intenso, fiz uso de gorro de lã. Para combinar com a atmosfera, para mim sombria, a carapuça era cinza e verde-escura. Meu filho tirou uma foto que estampa, ao fundo, a famosa Tower Bridge. Foto esplêndida. Alguns, ou muitos, diriam, “menos Aroldo, menos. Se você estivesse fora do panorama, aí sim, poderia afirmar que a foto é admirável”.
Tenho vários tipos de bonés. O que não me faz muito a cabeça são os de marca, pois além de eu não ganhar dinheiro fazendo propaganda gratuita, são caros. Compro alguns, outros ganho e até chego a pedir quando aprecio um exemplar.
Num passeio que fiz com minha neta para o interior do Paraná levei um boné oriundo dos States, para aparecer um pouco. Não é que o gringo, após uma parada para lanche, me abandonou sobre o encosto da cadeira. Passei o pedágio e só então me lembrei do infeliz. O retorno demorou um bocado, além de ser obrigado a pagar mais duas vezes o tributo pelo direito a meu passeio. Mas levei o boné, para minha alegria e para acalentar a azeda ilusão de parecer mais do que sou.
Como já falei, se não o fiz, deveria ter dito, em todo passeio que realizo compro uma lembrança do local visitado. O regalo é sempre o mesmo, um boné. Num dos programas com a família, conhecemos a rota das vinícolas catarinenses e em determinado momento entrei com um dos filhos em uma loja e escolhi um, mas para minha surpresa um dos outros rebentos me aconselhou a deixar aquele ali, pois já comprara um com o irmão para me presentear. Com a voz embargada, agradeci o boné de Treze Tílias e, depois, fiz o mesmo com o outro filho.
Um boné que me deixa orgulhoso, como já relatei acima, é o que mandei fazer com o Brasão da Família Medeiros. Nos tempos antigos, esse brasão foi usado por príncipes e baronetes. Destaca-se nele um escudo todo vermelho com cinco cabeças de águia de ouro.
Tenho um que serve para abrir garrafa, mas pouco uso, mas quando o faço não deixo de esnobar, abrindo e bebendo uma garrafa de cerveja.
Quando fui com o saudoso e querido Valoci ao Rio de Janeiro, participar do casamento de um sobrinho dele, tiramos uma foto em que ambos estávamos de boné. O meu era da Citroën – Le Monde – J’adore Citroën. O dele era do Flamengo, time do coração de toda a família Moraes.
Já que o assunto partiu para time de futebol, tenho dois que dificilmente uso: o do Vasco e o do JEC. Não quero ser achincalhado face às campanhas horríveis que têm sofrido em qualquer competição que participam.
Não posso deixar de citar o chapéu de palha. Levei-o em minha companhia para Aparecida. Foi meu companheiro, só tirei para entrar na igreja e em locais fechados como reza a etiqueta. Posei para uma foto com pompa de fazendeiro, escolhi como pano de fundo a belíssima basílica. Em outro instante, numa pescaria com meu amigo e colega de serviço, Francelino, ele estava presente. Pescamos bem pouco em Porto Belo, mas a companhia foi formidável e o passeio inesquecível.
Passei um bom tempo pensando que não tinha adquirido um boné de Portugal quando lá estive. Cheguei a encomendar a uma sobrinha que viajou para aqueles sítios e só há pouco tempo o descobri, enrustido na minha coleção. E tratei de, rapidamente, o usar. Procurei fotos e encontrei uma em que estou com um xale, em pose de turista.
Se alguém tem vontade de me presentear com algo, ficaria muito contente com um boné. Algumas sugestões cito em seguida: Martinho da Vila, Manezinho, Laguna, Shalom, Pesca com auxílio de boto.
Um dia meu pai vai ser chamado pelo Pai do céu. Eu pedirei para os irmãos que me deem os bonés que ele possui e assim aumento minha coleção. Será uma herança que aproveitarei para sempre e lembrarei dos bons anos, dos passeios, das alegrias que passamos juntos. Pois, com certeza, os bonés de meu pai também contém belas histórias.
Aroldo Arão de Medeiros
24/02/2021