MINHA PLATEIA VAZIA
Deu o terceiro sinal, entrei em cena e senti o silêncio do vazio. Nenhuma alma na minha frente, nada mesmo. Nada.
Aquelas cadeiras desocupadas me deixaram em pânico. Como representar diante dessa quietude imensa? Ensaiei tanto, refiz tantas cenas, repeti tantos textos, tudo em vão. Aqueles que deveriam aplaudir, rir, chorar, debandaram de vez. Aqueles que tinham que estar li, sumiram, zarparam de vez. Não sentir seu cheiro, seus respiros, seu contorno nas sombras me aterrorizava até os fundilhos da alma. Estava encharcado dessa solidão tanta, não sabia o que fazer. Fugir? Calar?Desaparecer? Morrer? Sei lá. As luzes ficavam tênues, o chão desconfiado, as lembranças revoando numa ensandecida alegoria. Não viriam aplausos, não viriam agradecimentos, não viria nada. Então comecei minha fala e aí aconteceu. Vieram os aplausos, vieram os ruídos, vieram as gentes, vieram todas almas que tinham sumido de mim. Todas mesmo.