Vozes na Madrugada
Deito na cama para dormir, e um burburinho se forma imediatamente. Vozes de uma cidade inteira dentro da minha cabeça.
Tem um cara que sou eu, tá?
Mas tem um cara que vive apaixonado. Idiota! Retardado!
Sabe que nunca será correspondido.
Não tenho dúvidas disso.
Havia um cara que fumava; já falei dele, busca aí para você ler.
Eu gostava dele, bem-humorado, porte atlético, bobo até onde chegou e parou.
Morreu! Tipo, Deus pediu e ele foi.
Já falei de um cara com quem não converso, que queria matá-lo. Imbecil, indecente! Nojento.
Mas deixa ele... Quero falar do apaixonado.
Deito aqui, e um monte de vozes surge automaticamente.
Queria deitar e me aquietar, dormir em um minuto.
Mas, nããão! Tenho que pensar, colocar as engrenagens para funcionar...
Então pensa, mas esquece aquilo...
Aquela!
Não... A outra "aquela".
Lembra dos amigos de Aquiles?
Filho de Peleu e de Tétis?
Navegando por anos!
Batalhando por mares sem fim, batalhas sangrentas, violentas.
Mas eu vou sobrevivendo.
Suportando as flechas pelo meu corpo,
As flechas no meu cérebro que não dorme fácil.
Várias flechas me mataram, mas hoje, eu quero ver quem vai me matar!?
Eu não vou morrer sem realizar um dos meus sonhos.
Quero ver a aurora boreal.
Quero ver as sete maravilhas naturais do mundo.
Quero publicar um livro de qualidade.
Quero ser bisavô, por que não?
Quero que Deus olhe para mim e diga:
— Ele tentou até conseguir. Filho bom, esse menino!
E você? Qual é o sonho que te mantém firme através das flechadas?