EFEITO COLATERAL DO CONHECIMENTO

Certa feita, numa rede social, mais precisamente numa conversação em grupo fechado, alguns colegas de trabalho e eu debatíamos sobre uma atitude tomada por conta de uma ação a ser desenvolvida por uma minoria, a qual beneficiaria uma parcela da turma e a outra, com os mesmos direitos, ficaria à deriva. O debate se acalorou quando foi percebido que as negociatas convergiam para um lado meio que esdrúxulo, ou seja, a conversa da minoria beneficiada mostrava claramente interesses escusos com o uso de incautos colegas como massa de manobra para seus intentos.

Comecei a expor meu ponto de vista e, a certa altura das conversações, um dos detentores do “poder de persuasão” vendo minhas linhas de pensamento, preocupado em manter a massa na ignorância, passou a direcionar suas alocuções à minha pessoa, através de indiretas travestidas de postagens repressivas e, ao mesmo tempo, de cunho reflexivo. Nada de próprio punho.

Uma vez que tenho o péssimo defeito de acreditar que ao ser humano ainda é possível a mudança para melhor através do diálogo, tentei sair da contenda me despedindo formalmente e postei o seguinte aforismo: “O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante do idiota que quer bancar o inteligente”.

Nesse momento, o nobre senhor filósofo e colega de luta, que até aquele momento queria transparecer uma pessoa altamente culta e capaz, passou a desfilar suas qualidades acadêmicas e culturais no sentido de demonstrar superioridade e aí percebi que aquela pobre alma poderia até ser culta, mas capaz, acho muito difícil.

Foi fragorosa sua incapacidade intelectual e seu falso moralismo. Cada frase expelida era um absurdo, eram coisas do tipo: “Você acha idiota uma pessoa formada nisso e com pós-graduação naquilo? Será que é idiota uma pessoa que não depende financeiramente da instituição e tem curso de capacitação até na Inglaterra?”.

Resumindo, toda a filosofia despejada por ele transformou-se numa pútrida demonstração de arrogância e fraqueza espiritual, características próprias de quem acha que viver à custa de títulos e notoriedade de fachada são elementos indispensáveis para torná-lo um ser imortal e, mais ainda, sua atitude desnecessária selou ainda mais meu conceito sobre a espécie humana, ou seja, vivemos hoje a teoria do ter e não do ser, mas enfim, vamos vivendo.

De que vale tanto estudo se não temos a capacidade da empatia? Diplomas agora são pré-requisitos para ser uma pessoa de bem? Até que ponto um curso feito no exterior me torna o maior ser humano de toda a galáxia. E mesmo sendo o imortal do conhecimento, que proveito se tem em saber só pra si achando que os outros são só os outros? Pasmem!

Fatos como esse desembocam em um detalhe, um velho clichê, mas um detalhe importantíssimo: O estudo e o conhecimento para esse arauto da sabedoria, ao invés de servir para libertá-lo, o aprisionou nas grades da vaidade e da arrogância, tornando-o vela acesa dentro de um quarto vazio.

Pobre alma! Quem tem sapiência sem humildade é semelhante a uma pessoa que tem um pão pra comer e esconde-o para não dividi-lo e, num belo dia, quando acha que já pode saboreá-lo, descobre que esse pão já está seco e velho e que as pessoas das quais ele escondeu o pão batalharam o seu próprio e acrescentaram recheio nele.

Demelirios Setenóva
Enviado por Demelirios Setenóva em 14/08/2024
Código do texto: T8128867
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