CRÔNICA, inspirado na Filosófia de 

Georges Bataille. 

 

Às vezes, me pego pensando demais. A mente, inquieta, vagueia por labirintos de ideias que se entrelaçam, se desfazem e se refazem em um ciclo incessante. Há quem diga que pensar em excesso pode ser perigoso, uma armadilha da qual é difícil escapar. E talvez seja mesmo, mas há algo de irresistível em se perder nos próprios pensamentos, em viver carregado deles, como se fossem um fardo doce, mas inevitável.

 

Georges Bataille, filósofo do excesso e do limite, entenderia bem essa sensação. Para ele, o pensamento não é apenas uma atividade racional, ordenada e limpa. Não, para Bataille, pensar é se lançar em um abismo, é mergulhar nas profundezas da própria existência e se deparar com o que há de mais sombrio e desconcertante dentro de si. Viver carregado de pensamentos, sob a ótica batailliana, é experimentar uma vertigem, uma queda contínua que nos arrasta para além das fronteiras do confortável e do conhecido.

 

Mas o que encontramos nesse abismo? Será que pensar tanto assim nos adoece? Talvez, mas não de uma forma simples. Pensar em demasia pode ser como uma febre que consome, que queima e purifica ao mesmo tempo. É uma experiência que destrói as certezas, que desfaz as convenções e nos deixa expostos, vulneráveis ao absurdo da existência. E essa exposição pode, sim, ser dolorosa, pode nos fazer sentir a fragilidade de tudo o que tomamos por garantido. Mas, ao mesmo tempo, é nesse esfacelamento das certezas que reside uma espécie de liberdade selvagem, uma conexão com algo maior, algo que não se pode nomear, mas que pulsa em cada um de nós.

 

No pensamento excessivo, há um paradoxo: ele nos leva à beira da insanidade, mas também nos abre as portas para uma compreensão mais profunda, mais visceral da vida. É como se, ao pensar demais, ultrapassássemos a superfície das coisas e tocássemos a essência, mesmo que por um breve e intenso momento. Esse momento pode não durar, pode ser fugaz, mas deixa marcas, cicatrizes que nos lembram de que há mais na vida do que a simples rotina.

 

Viver carregado de pensamentos, então, é um ato de coragem, de ousadia. É enfrentar a vertigem sem recuar, é se permitir cair, mesmo que a queda seja dolorosa. E nessa queda, nesse movimento sem fim, encontramos um sentido que vai além das palavras, além das definições. Encontramos a nós mesmos, em nossa forma mais crua, mais verdadeira.

 

No fim das contas, pensar demais pode adoecer, sim. Mas também pode engrandecer, não no sentido de nos tornar superiores, mas de nos tornar mais humanos, mais conscientes da nossa própria complexidade. É um caminho arriscado, sem dúvida, mas é também o único caminho para quem não se contenta com as respostas fáceis. É o caminho daqueles que, como Bataille, preferem o abismo à segurança das margens.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 13/08/2024
Código do texto: T8128453
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