" Quando a gente chega à idade de
conhecer o caminho,
já não temos mais
para onde ir "
- Graham Green, escritor britânico -

 

 

 

O ABRAÇO DAS SOLIDÕES

 

 

Ontem pela manhã conheci um abrigo diferente para pessoas da terceira idade. Diferente em alguns aspectos, mas triste como todos os outros, a despeito de todos os risos que visualizei nas faces envelhecidas com o tempo, com a dor e talvez com a desesperança que é o rosto do abandono. Apesar de cedo, o tempo era tarde, pois a velhice na maioria das vezes é um pacto silencioso com a solidão.
O local, diferentemente de todos que já conheci, tinha a higidez necessária, móveis em bom estado, um cheiro agradável, cuidadoras simpáticas e senhoras com um semblante de alegria. Sim de alegria, não é incrível? Conheci quase todos os ambientes, e as conversas e risos eram contagiantes. Numa grande televisão tocava músicas de Altemar Dutra, o trovador solitário, e algumas conversas não ouvidas talvez fossem de amores vividos... Poder contar histórias é um forma de continuar vivendo.
Não vou adentrar no mérito de colocar um parente em um asilo, cada família é infeliz à sua maneira, como bem o disse Tolstói,  mas o ato sempre me pareceu demasiado. A velhice traz muitos problemas de saúde e limitações as mais diversas, e muitos não desejam ter a paciência necessária com aqueles que tanto e muito fizeram por todos, muitas vezes em desesperado sacrifício. A velhice é incômoda para muitos, mas é infinitamente mais dolorosa para quem consegue envelhecer.
Voltando ao ambiente dos sorrisos, a alegria que vislumbrei não arrefeceu minha tristeza. O fato de ser bem tratado, alimentado e cuidado não apaga a solidão familiar indesejada, mesmo que os abraços daquelas solidões sejam um amplexo que amenize a lágrima pela falta do abraço de um filho. O calor das solidões abraçadas diminuem o frio da velhice abandonada, mas não aquece.
Vale lembrar que o abandono não é só material, o esquecimento talvez seja a pior maneira de dizer adeus. Então viva como possível a presença das pessoas quase centenárias que desejam tão pouco. O teu sorriso em uma visita pode significar tanto. O teu pouco sempre será muito para quem recebe.
Muitos de nós sequer sabemos se seremos um dia "velhos", e a possibilidade de ser esquecido assusta. Então cuida, mas não por obrigação, mas por amor.
Sabemos o preço de tanta coisa, que tal saber o valor da idade?

Tarcisio Bruno
Enviado por Tarcisio Bruno em 13/08/2024
Reeditado em 13/08/2024
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