A Grande Mentira e o Espelho de Ouro
Nas entranhas do Brasil, onde a terra é generosa mas a distribuição é avarenta, a história que se repete é a mesma: uma fábula contada por aqueles que, de tão ricos, não sabem mais distinguir entre a verdade e a mentira que propagam. Vestem-se com ternos finos e com palavras que soam doces aos ouvidos de quem já não tem mais esperança. Com olhos brilhantes de ambição, repetem incansavelmente que as instituições públicas não funcionam, que a saúde, a educação e a segurança só terão salvação se forem privatizadas.
Essa narrativa, tão velha quanto o próprio capitalismo, é vendida aos pobres como a única solução possível. E o povo, cansado de promessas não cumpridas, começa a acreditar. Afinal, quem não gostaria de um serviço eficiente, rápido e de qualidade? O que não lhes dizem é que esse serviço, prometido como um milagre da iniciativa privada, não é feito para eles. É como se vendessem um espelho de ouro, mas na hora de entregar, o ouro desaparece e resta apenas um reflexo distorcido da realidade.
Olhando para o outro lado do mundo, na terra do Tio Sam, a saúde é o espelho perfeito desse engodo. No país mais rico do planeta, milhões de pessoas vivem sem acesso a cuidados médicos básicos, enquanto hospitais de luxo enchem os bolsos de quem pode pagar. A mesma fábula é contada aqui, e os ricos repetem o refrão: "O privado é melhor". Mas na hora de buscar atendimento, esses mesmos milionários não pensam duas vezes antes de usar o melhor hospital público, ou de tirar proveito de alguma isenção fiscal, um subsídio, uma licitação amiga. Para eles, o Estado é uma mina de ouro, explorada na surdina.
No Brasil, a hipocrisia atinge níveis insuportáveis no Congresso Nacional. Os mesmos deputados que pregam a privatização de tudo o que é público são os que mais pesam nos cofres públicos. Custa caro manter a ideologia deles: cerca de R$ 300.000,00 por mês, pagos por cada um de nós. É dinheiro que sai da saúde pública, da educação, da segurança, dos projetos sociais. Dinheiro que poderia construir hospitais, escolas, creches. Mas não, ele é destinado a pagar regalias, salários astronômicos e benesses de toda ordem para quem defende o fim dessas mesmas coisas para os mais pobres.
Assim, a grande mentira se perpetua. Os ricos seguem sugando o Estado e, com a outra mão, vendem aos pobres um modelo que nunca foi feito para eles. Um modelo que, se implantado, deixará milhões à margem, lutando por migalhas. Enquanto isso, o espelho de ouro continuará refletindo o sonho de uma vida melhor, mas apenas para aqueles que já têm de sobra. E o povo, iludido, gritará por privatização, sem perceber que a verdadeira solução não está em vender o que é nosso, mas em fazer funcionar o que sempre deveria ter funcionado.
Porque a verdade, tão simples e ao mesmo tempo tão escondida, é que as instituições públicas podem sim funcionar. Elas podem ser eficientes, humanas e justas. Mas para isso, precisamos que os ricos deixem de usar o Estado como se fosse seu próprio banco privado, e que os pobres se unam para exigir o que é de direito: um país onde todos tenham as mesmas oportunidades e onde o espelho de ouro não seja mais necessário.