A Memória Curta e as Opiniões Longas
No Brasil, é curioso como a memória coletiva parece ter um prazo de validade curto, especialmente quando se trata de eleições. Muitos não se lembram em quem votaram para vereador ou deputado nas últimas eleições, mas estão prontos para opinar sobre o resultado das eleições em outros países, como se fossem especialistas de política internacional.
A recente eleição na Venezuela trouxe à tona debates acalorados em redes sociais e conversas de bar. Por aqui, brasileiros que mal conseguem lembrar o nome do vereador que escolheram há poucos anos, se apressam em dar opiniões definitivas sobre a situação venezuelana. Esquecem, no entanto, que o Brasil passou por uma situação semelhante em 2022. Ainda hoje, o ex-presidente não aceita a derrota, alegando que o atual presidente só chegou ao poder com a ajuda do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A ironia é gritante. No Brasil, muitos questionam o sistema eleitoral de um país vizinho, enquanto aqui mesmo, nosso sistema democrático também é alvo de desconfiança. O que isso nos diz? Talvez, que é mais fácil apontar o dedo para fora do que olhar para os próprios erros. Talvez, que a nossa atenção é atraída pelo espetáculo do outro, enquanto deixamos de lado o que acontece em nosso próprio quintal.
E afinal, o que a eleição na Venezuela realmente nos interessa? Se estamos tão preocupados com a democracia alheia, talvez seja hora de voltarmos nossos olhos para a nossa própria. Quem sabe, na próxima eleição, ao invés de esquecer em quem votamos, possamos recordar não só nossos votos, mas também nossos valores. Assim, quem sabe, ao discutir a política externa, tenhamos mais memória e menos opiniões vazias.