PRIMEIRA COMUNHÃO

Minha Primeira Comunhão.

Tinha quase 7 anos, completaria dia 21 de novembro e a Primeira Comunhão estava marcada para o dia 1º de Novembro, dia de Todos os Santos.

A Catequista sabia das dificuldades de minha família, mas a regra era terninho branco, de calça comprida, fita amarela no braço e vela comprida na mão.

Eu me saíra bem nos testes e perguntas do Padre que visitava nossa Igreja todo 2º Domingo de cada mês e estava pronto para realizar o sonho de receber a Sagrada Eucaristia.

Nossa turma era pequena, do Bairro Borboleta e teríamos então que nos juntarmos a uma turma maior, da Paróquia sede da Glória, lá no Morro da Gratidão, para assim fazermos bonito na Missa das 08 horas.

Mas, não tinha como arranjar um terninho para mim e então a Catequista Darcília, teve a ideia de que deveria ir lá perto da Igreja de São Roque, na Casa Maternal Maria Helena, que lá me dariam um corte de tecido branco para que alguém pudesse costurar meu terninho.

Assim fizemos, eu e minha irmã na semana que antecedia o 1º de novembro, fomos à pé, cerca de 4 km e buscamos o tecido, que já estava embrulhado nos esperando e o recebemos das mãos de uma Irmã de Caridade que administrava a Creche. Voltamos alegres e saltitantes e chegando em casa, Mamãe logo, logo levou para uma Comadre dela, que era costureira e pediu para executar a tarefa.

Pouco tempo, uma semana para fazer tudo e ela fez.

No Sábado, pela manhã eu, orgulhoso no meu terninho branco, camisa branca e sapatos pretos, embarquei no ônibus das 7 horas e junto com minha irmã e chegamos à Igreja da Glória, suntuosa e bela.

Fiquei eu no quinto banco da esquerda do altar junto aos meninos e do lado direito as meninas.

Me lembro perfeitamente que na homilia o Padre Michelloto, franzino, simpático e já velho fazia algumas perguntas a nós, sobre nosso aprendizado na catequese e respondíamos prontamente tudinho.

Hora da Comunhão, teríamos que sair um a um do banco e ir até à Mesa da Comunhão e aí aconteceu a primeira tragédia do dia. Via meus coleguinhas saindo à minha frente e todos com suas fitinhas amarelas pendentes de suas mangas do paletó.

Olhei para minhas mangas e não deparei com a minha fita. Como? Não podia ir até à frente e receber a Comunhão sem ela... Caí em prantos e aquilo fez um alvoroço entre os meninos, que me olhavam soluçando e as Catequistas tentando me consolar e procuravam a minha fita pelo chão, que desaparecera. "Desfitado" fui levado soluçando até a Mesa Sagrada da Comunhão, (não podia atrasar a fila) recebi a hóstia consagrada, na boca e regressei ao banco com o rosto banhado em lágrimas e soluçando. (O Padre e o Coroinha julgavam ser a emoção do momento).

Quando ajoelhado e cabeça baixa deparei com minha fitinha jogada ao chão, debaixo do banco. Ela caira quando o alfinete se desprendera da manga e caiu bem num canto e ninguém conseguira encontrá-la.

Jesus Sacramentado que me fora dado em Comunhão, ao abaixar minha cabeça, me dirigiu o olhar para aquele canto e por encanto, tudo cessou, assim como o choro e os soluços, o sofrimento da perda da fitinha cessou, e a alegria do Sacramento da Eucaristia voltou e tudo voltou ao normal, com meus coleguinhas e Catequistas sorrindo junto comigo.

Foram momentos mágicos aquela manhã de bênçãos na Igreja Mãe de Nossa Senhora da Glória.

Voltamos para casa, de ônibus também.

Como poderíamos voltar caminhando à pé, depois de tantas emoções?

Sentado no banco do ônibus, com minha irmã, falei pra ela que não tiraria o terno o restante do dia e ficaria com ele curtindo e "fazendo figa" aos meus irmãos, (Éramos 7 irmãos, 4 homens e 3 mulheres, sendo eu o 5º) com meu terninho branco e sapatos pretos. Minha irmã, 5 anos mais velha que eu ouvia tudo sorrindo, com minha alegria.

Mas, continuando, logo, logo viria a segunda tragédia do dia...

descendo do ônibus, num ponto mais perto de casa, cerca de uns 50 metros longe de casa ainda, apeamos e ficamos esperando o ônibus arrancar e seguir, à margem da rua estreita. Chovera na véspera e o piso da rua de terra deixava ver buracos que ainda preservavam água e barro da chuva. Quando um carro surgiu logo após o ônibus e passando dentro de um buraco desses me aspergiu com um banho de água suja e barro, que enlameou de cima à baixo meu terninho branquinho.

Sem saber o que fazer, novamente chorando chegamos em casa e minha irmã contou tudo pra Mamãe, inclusive que eu pretendia ficar desfilando o terninho branco o dia inteiro. Ela se apiedou de mim, me abraçou, mas foi muito prática.

Desse jeito você não pode ficar, meu filho, é tirar essa roupa enlameada para botar pra lavar e vestir suas roupas de casa mesmo.

Mas, fica tranquilo meu filho, você recebeu Jesus no seu coração e está em estado de Graça e isto tudo vai passar e você terá mais uma história pra contar.

Meus irmãos ficaram me zoando o tempo todo, porquê souberam da minha intenção de fazer inveja à eles, com meu terninho branco...