DIA DOS PAIS- PARA MAIS UM OUTRO DONO DO SILÊNCIO
Eram já 14 horas do domingo do dia dos pais quando passei por Seu Caetano Carroceiro. Lá ia ele na direção de sua casa, tangendo seu burro companheiro, firme como uma velha cruz na beira da estrada por cima de sua carroça, também empenada. Terminava um dia excepcional de trabalho, iniciado no costume dos últimos 45 anos aproximadamente, sempre às 4 da manhã e mas naquele dia aparentemente findava “mais cedo”.
- Ôpa, Seu Caetano! – Cumprimentei costumeiramente o homem.
- Ôpa! – Respondeu-me quase involuntariamente ele, como que num cacoete costumeiro.
Mas como fosse esse um dia especial (ao menos para mim), impulsivamente insisti. – Feliz dia dos Pais, Seu Caetano!!!
Foi quando seu rosto do homem se voltou-se para mim, pela primeira vez com uma expressão inédita. Havia em sua face, nos desenhos da musculatura de seu rosto e na dureza de seu olhar, uma sentença de denúncia vexatória, de disparate e até mesmo de insolência de minha parte, claro.
Lembrei-me imediatamente de sua família e de sua prole. Todos vivos e saudáveis, sobretudo por causa de sua abnegada e intrasferível dedicação sacerdotal ao oficio moral de provedor, guardião e zelador do que considerava ser sua sagrada família. Eu, não tinha cometido gafe nenhuma. Pensei.
E o dono do silêncio assim seguiu olhando em frente com o arrojo de seus quase 70 anos, obstinado em cumprir aquilo que para ele era sua obrigação inquestionável, irreversível e de desnecessária gratidão.
Nenhuma nova revelação partirá dali tão cedo.