Iraci, Corta e Bigode

Primeiro íamos ao Campo, depois ao Estádio, agora à Arena. Campo era o nome que todos diziam. "Foi ao campo ontem? Ontem teve briga no campo." Estádio era palavra mais chique, usada pelos serviços de auto-falante. Esses funcionavam nos dias de treino e nas tardes de domingo, anunciando o "sensacional prélio". Ainda se usa "Estádio", mas logo o termo Arena dominará, até aparecer outro mais atraente. Sobre isso, a diferença é apenas a designação do local, a diversão e o instinto de competição são os mesmos.

Na maior parte de meu tempo em Pitangui, os campos eram de terra, imaginem quanto o espectador sofria nos tempos de poeira e ventania. Para ir ao campo, saíamos de casa quando começava o foguetório, as músicas e as chamadas dos serviços de alto-falante:

-Serviço de alto-falante do Estádio Homero Silva convida para o duelo logo mais às 16 horas entre Pitangui Esporte Clube e o Paraense, de Pará de Minas. Ou o Clube Atlético Pitanguiense e o CAP, de Pompéu.

Poucas pessoas tinham automóvel, então melhor subir logo a pé o morro do Lavrado onde, até hoje, estão os campos dos dois mais tradicionais clubes.

Quando menino, ia com meu pai, torcedor do Pitangui, o PEC. Ele levava um jornal antigo para servir de assento nas arquibancadas empoeiradas. Depois, já adulto, as precauções eram as mesmas. Na seca, a poeira do campo de terra chegava a escurecer a visão. Mais tarde, a partir da década de 90, já gramados e iluminados, os dois estádios da cidade oferecem melhores condições.

Vi várias batalhas campais em jogos do Atlético e o Pitangui, até há pouco tempo o maior clássico da cidade. Em uma das decisões, vários jogadores fugiram de uma batalha campal pulando a cerca e se escondendo em cisternas e no matagal do Lavrado que, praticamente, começava na rua de baixo e terminava já no atual capeamento do córrego.

Mais tarde, de 1985 a 1993, já como repórter do jornal Correio de Pitanguy, ia sempre com o Jonba Freitas e Reinaldo "Rohr" Pereira. A rotina era levar jornais velhos para sentar nas arquibancadas e máquina fotográfica para as fotos dos times e eventuais lances sensacionais. Essa tarefa, com o tempo, passou para o Edilson Lopes, primeiro no "Correio de Pitanguy", depois no seu próprio jornal, "O Independente". Nessa época, assisti a grandes partidas entre Campo Grande, Niterói, Galáxias, Flor de Minas, Brumado e o clássico Pitangui e Atlético.

Esta crônica não pretende falar da história do futebol pitanguiense, isso já fez - e maravilhosamente - Marcos Antônio de Faria, o "Barrica", no livro "De gol em gol". A intenção é apenas lembrar de flashes afetivos da época, por exemplo, ir com meu pai ver jogos do Oito de Maio, o atual Pitangui, junto com seus amigos, a maioria jogadores desse time do bairro São Francisco.

Já explorado por vários autores locais, deixei de lado o trio final mais famoso do futebol pitanguiense, Danilo, Chico e Tode, para dar nome a essa crônica. O título relembra o trio intermediário do Clube Atlético Pitanguiense, da mesma época, que dizem, jogava por rima com os outros três da defesa, os competentes: Iraci, Corta e Bigode. Coisas do futebol!