Hoje acordei pensando em você, pai. Na verdade, penso em você quase todo dia, de alguma forma. Sua presença é constante na educação da minha filha, refletida nas coisas que faço e falo. A maior herança que me deixou foi a honestidade e a retidão de caráter. Chamava-me de "Russa" pelas sardas e cabelo vermelho. E, por ser opiniosa e brava, às vezes, "Russa Ruim".

Pai, lembra-se quando tentou me ensinar a não mentir? Você vendia manteiga na feira, e um dia, ao abrir um pote, achou um buraco (marca de um dedinho...). Me chamou e perguntou:"Quem enfiou o dedo na manteiga?" E eu respondi: "A Maria Lúcia" (minha irmã, que nunca mentia...). Sabia que eu mentia, mas me sentou no colo e falou sobre a importância da verdade. Perguntou de novo: "Então, quem enfiou o dedo na manteiga?" E eu... "A Maria Lúcia" (risos).

Ou quando, na Páscoa, comprou um ovo para cada um, e me perguntou:  "Maria Inês, voce  viu um ovo de chocolate que estava em cima da cristaleira?" Eu estava sentada no portao, e virei com o rosto lambuzado e disse: "Não vi!"

 

Em Ubatuba, levava-me ao fundo do mar, ensinando a furar ondas enormes. Hoje, entro no fundão e furo ondas em sua homenagem. Você me ensinou tanto, não só falando, mas agindo. Hoje, como queria tê-lo aqui para compartilhar o que aprendi.

Quando cozinho, lembro da sua arte: cortar cebola, preparar saladas e a deliciosa sopa de legumes no frio...  Sempre fazia questao que todos nos estivessemos na mesa no horario do almoco.

As lembranças mais significativas? Você me levou ao banco para ter meu primeiro talão de cheques, me carregou ao hospital nas crises de asma e segurava minha mão até eu dormir.

 

Vi você pela última vez em 2001. Estávamos no terraço da sua casa, você misturava presente e passado, agarrado à caixinha do passado. Quando você morreu, eu a recebi. Ela está aqui, com todas as fotos... e todas as suas e minhas lembranças.

No silêncio da noite, vejo seu rosto em minhas memórias, sinto seu abraço em minhas recordações. Obrigada por tudo, pai. Você me ensinou a viver, e cada batida do meu coração é uma homenagem a você.

Ainda hoje, ajeito meu travesseiro a noite e  sussurro: "Bença, Pai!" Parece que ouço sua voz  firme: "Deus te abençoe, minha filha!" E, mesmo na distância, sua proteção continua a me envolver, como nos velhos tempos.

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 11/08/2024
Reeditado em 12/08/2024
Código do texto: T8126535
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