Chega de coitadizar

Se alguém conhece a história da americana Helen Keller, sabe que ela ficou surda e cega aos 18 meses de idade e seus pais, pretendendo ensiná-la a se comunicar, chamaram a professora Anne Sullivan, a qual viu que o maior problema de Helen - que era uma criança rebelde e insuportável - era o fato de que todos sentiam pena dela por causa de suas deficiências e a tratavam como uma coitadinha, fazendo todas as suas vontades. Sendo dona de uma coragem indômita, Anne Sullivan desafiou os pais de Helen, iniciando o desafio de ensiná-la a viver como uma pessoa normal apesar das suas limitações.

É com tristeza que vemos não apenas os pais, mas outras pessoas, "coitadizando" quem tem limitações físicas ou cognitivas. Ainda lembro de quando mãe me atormentou por causa do meu conto Lamentos do infinito, cuja protagonista, Débora, é cega de nascença, dizendo que era injusto eu botá-la morando sozinha e se referindo a ela como uma "pobre menina cega." E isso porque Débora tem inteligência normal, estudou e ensina piano e canto. Ou seja, ela é plenamente capaz de encontrar seu lugar no mundo.

Piora muito quando a pessoa tem autismo, síndrome de Down ou algum retardo. Muitos tratam essas pessoas como alienígenas ou como se fossem de cristal, isto é, vulneráveis e hipossuficientes, sem condições de se virar sozinhos. É uma pena que não tenhamos aprendido que pessoas com necessidades especiais não são "coitadinhas". Elas têm potencial e necessitam de oportunidades para se desenvolver plenamente.