LEMBRANÇA DO MEU TEMPO DE CONTINUO INTERNO CONTRATADO
LEMBRANÇAS DO MEU TEMPO DE CONTINUO INTERNO CONTRATADO
( Da Série Personagens de Rosário do Sul)
Aos quinze anos, tive que me despedir da Lenharia do seu Ataídes Aquino por ter me tornando, mudando totalmente de profissão, funcionário do Banco da Provincia do Rio Grande do Sul, na função de Contínuo Interno contratado.
Esse Cargo que compreendia limpar os banheiros da Agencia, varrer as dependências internas e encerar o piso com um enceradeira rotativa usando como insumo a famosa Cera Parketina Incolor.
Era minha função, também, fazer cafezinho e servi-lo, diariamente, ao Contador, Chefe de Serviço e Gerente da Agência e aos clientes assíduos e preferenciais que chegavam na Gerência e aos quais era oferecido um cafezinho e que o Gerente me comunicava através de uma campainha que tinha embaixo de sua mesa, unicamente, para avisar que eu tinha que levar uma bandeja, com tantas xícaras quantas fossem as vezes que, a seu comando, a campainha fosse acionada.
O seu Ari Josende, que era o contínuo mais velho da agência, me orientava que eu, sempre, levasse a Jarra Cheia de café e algumas xicaras a mais, sobre a bandeja, para que, caso o gerente tivesse se enganando na quantidade de apitos, nenhum cliente ficasse sem café.
No âmbito interno da administração e funcionários da agência me marcaram, muito, as figuras do seu Eli Pedroso e do seu João Setembrino Silva, que foram contadores, do seu Pedro D´Andrea Neto que foi Chefe de Serviço, do seu Luiz Percy Denardin e do seu Águedo Andrade Cardoso , que foram gerentes.
Dentre os escriturários aprendi muito, com os colegas mais velhos Irai Acosta Teixeira, Auberi Souto dos Santo, Rui Berriel Soares, Valdomiro Rodrigues(o seu Miro) que era, também, Gerente do Cinena Fenix, Jari Acosta, Soter Arigoni, Alvaro Xavier, Nelson Conde Severo e Artidor Araujo. Se esqueci de algum, peço desculpas.
Esses colegas, pelos seus profissionalismos, pelas suas honestidades, pelas suas competências , pelas suas responsabilidades, me são muito caros, me auxiliaram muito no exercício da Profissão de Bancário e moram, para sempre, na minha lembrança.
Mas as minhas lembranças não estariam completas se eu não mencionasse os clientes aos quais eu servia cafezinho e ficava admirado pelas suas formas educadas de relacionarem-se, pelas suas personalidades singulares, pelas suas condutas como clientes e pelos seus exemplos como cidadãos de singulares comportamentos sociais e familiares e que, por isto, se constituíam em modelos a serem seguidos por mim, um guri de quinze anos que até há pouco tempo, cortava lenha de machado ,mas que agora, para orgulho de meu pai e de minha familia era um bancário.
E ao recordá-los agora, sessenta anos, depois me vem a lembrança as figuras exemplares de homens valorosos, comerciantes respeitados, produtores rurais, ou profissionais liberais, pais de familia singulares, amigos sinceros de seus amigos, dentre os quais eu em me lembro e cito o Aramis Marçal, o João Arigony, o Jose Narciso Antunes, o Garibaldi e o Romeu de Freitas Moreira respectivamente, pai e tio do cidadão rosariense Claudio Gilberto Moreira que soube, com sua conduta, honrar o nome de seus antepassados.
Seguindo a minha lista, da qual peço desculpas se omitir algum nome, me recordo do seu Claro Garcia Mota que era representante comercial e sua esposa a dona Ody, que era diretora de escola pública.
Quando o seu Claro Mota, entrava no banco saudava com um gesto de sua mão direita e com um sorriso a todos os funcionários que ali estavam.
Me recordo, também, do seu José Martins Camargo e de seu Irmão o seu Tito Martins Camargo que eram donos da Casa Camargo que ficava quase ao lado do Banco na rua Voluntários da Pátria.
O José Martins Camargo sofreu uma grande tragédia pela morte de seu único filho, asfixiado, enquanto tomava banho em um chuveiro aquecido a gás.
Muitas vezes, ao servir-lhe um café era-me impossível não notar seus olhos marejados por lágrimas solitárias de saudade e dor...
Esses clientes, por morarem perto e pela natureza de suas atividades estavam, quase todos os dias na Agência, e eu lhes servia o cafezinho que o seu Ari me ensinou a fazer e que eu faço, com qualidade, até hoje.
Eventualmente, uma vez por semana ou por mês apareciam por o lá os clientes Inacio Izaguirry, Armando Adolfo Caetano, Oscar Cañedo, Araci Vieira do Amaral, Joca Fialho e outros tantos que, por morarem no interior ou distantes da agência e por terem negócios rurais, não lhes era necessária a presença diária no Banco.
Quanta saudade ao me lembrar, agora, destes colegas e destes clientes que, muitos dos quais, me deram conselhos valiosos e que se constituíram em exemplo para o guri que um dia eu fui.
Tê-los conhecido- os colegas e os clientes- foi uma honra para mim e as suas condutas, as suas personalidades, as maneiras educadas e cavalheirescas de relacionamento e de conduta, se transformaram em ferramentas de suporte, que muito me auxiliaram e me ampararam e me auxiliam e me amparam, ainda hoje, nas batalhas da minha vida.
Afirmo que, com absoluta gratidão e convicção, todos ficaram e ficarão para sempre, na minha memória, no meu coração e na minha história e me ajudaram e continuarão me ajudando a lembrar-me de quem fui e de onde vim.
Continuarei buscando ser, uma imagem pálida do que eles foram.
( Recanto da Ana e do Erner 09.08.2024-Capão Novo)